sábado, 1 de junho de 2013

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A sessão, Rui Tinoco


Atendo pessoas: é esse o meu trabalho. Nunca mais vou conseguir esquecer aquela sessão. Falava com um adolescente, uma conversa igual a tantas outras. No final entrou o pai, combinávamos detalhes que não importa agora explicar. Foi então que o pai desatou a agitar-se na cadeira e começou num monólogo.

«não tive culpa… eu matei-o… sabe… estávamos no mato, fizeram-nos uma emboscada… não seu como aquilo aconteceu… apareceu uma preta ferida, vinda não se sabe de onde com um bebé nos braços… deu-o ao nosso capitão… ele ficou parado… o ataque continuava… berrei-lhe: dê ordens de retirada… mas ele estava paralisado… berrei-lhe novamente: capitão! Dê ordens de retirada… aproximei-me dele e tirei-lhe o bebé… mandei-o para o chão… disparei… disse-lhe novamente: dê ordem para a retirada… e ele lá o fez… conseguimos fugir e sobreviver… mas eu não queria ter feito aquilo… não queria…»

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