sábado, 8 de junho de 2013

0

Viagens - Capítulo VI

Paraná – Terceira parte

A história foi contada mais ou menos assim, por Seu Gervásio:
Seu cunhado, de alcunha Manezinho, saiu um dia de madrugada para ir à Vila fazer o rancho, que incluía trazer um mundo de coisas para toda a família. A Vila distava dali uns vinte quilômetros. Um burro encilhado, mais outro com duas cangalhas e dois cestos pendurados em ambos os lados do animal, para trazer as compras do rancho. Era costume do lugar, toda vez que alguém ia para a Vila, levar uma longa lista de pedidos que incluía os mais diversos artigos. Fitas para cabelo, tecido para vestidos e camisas, uma boneca para alguma das meninas, um carrinho para algum menino. E como a família era muito grande, a lista também era avantajada.
Quando Manezinho sumiu na curva do estreito caminho e já ia escondido pela mata, Seu Gervásio ouviu um grito. Apurou o ouvido e ficou a espera de mais barulho, e nada. Tudo silêncio. Só os bandos de baitacas e os bem-te-vis costumeiros, disputando no canto com os sabiás e canários, que naquela região eram muitos. Seu Gervásio voltou para a lida e esqueceu-se do grito. Seria uma baitaca desgarrada dando o aviso do descuido.

À tardinha, o sol já ia escondido e Manezinho nem sinal. Será que o malandro abusou da branquinha na casa do Armazém, e estava por aí a dormir embaixo de alguma árvore? Esperaram, e nada. Já era noite. Melhor esperar até o amanhecer, porque bem pode o Manezinho ainda surgir aí de supetão. A família se recolheu. Sua irmã vociferando contra o marido beberrão, que por certo em vez de fazer as compras dos mandados, gastara todo o dinheiro na cachaça. Seu Gervásio, no silêncio da noite, ficou sozinho no escuro da varanda olhando e contando estrelas, até adormecer no balanço da rede modorrenta, com a lua prateando as árvores lá no fundo da lavoura.

Seja o primeiro a comentar: