Paraná – Terceira parte
A história foi contada mais ou
menos assim, por Seu Gervásio:
Seu cunhado, de alcunha
Manezinho, saiu um dia de madrugada para ir à Vila fazer o rancho, que incluía
trazer um mundo de coisas para toda a família. A Vila distava dali uns vinte quilômetros.
Um burro encilhado, mais outro com duas cangalhas e dois cestos pendurados em ambos
os lados do animal, para trazer as compras do rancho. Era costume do lugar,
toda vez que alguém ia para a Vila, levar uma longa lista de pedidos que incluía
os mais diversos artigos. Fitas para cabelo, tecido para vestidos e camisas,
uma boneca para alguma das meninas, um carrinho para algum menino. E como a
família era muito grande, a lista também era avantajada.
Quando Manezinho sumiu na curva
do estreito caminho e já ia escondido pela mata, Seu Gervásio ouviu um grito.
Apurou o ouvido e ficou a espera de mais barulho, e nada. Tudo silêncio. Só os
bandos de baitacas e os bem-te-vis costumeiros, disputando no canto com os
sabiás e canários, que naquela região eram muitos. Seu Gervásio voltou para a
lida e esqueceu-se do grito. Seria uma baitaca desgarrada dando o aviso do
descuido.
À tardinha, o sol já ia escondido
e Manezinho nem sinal. Será que o malandro abusou da branquinha na casa do
Armazém, e estava por aí a dormir embaixo de alguma árvore? Esperaram, e nada.
Já era noite. Melhor esperar até o amanhecer, porque bem pode o Manezinho ainda
surgir aí de supetão. A família se recolheu. Sua irmã vociferando contra o
marido beberrão, que por certo em vez de fazer as compras dos mandados, gastara
todo o dinheiro na cachaça. Seu Gervásio, no silêncio da noite, ficou sozinho no
escuro da varanda olhando e contando estrelas, até adormecer no balanço da rede
modorrenta, com a lua prateando as árvores lá no fundo da lavoura.
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