quarta-feira, 17 de julho de 2013

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EMPRESTAR: dilema meu, seu ou nosso?

“A vida é feita de indagações / e elas realmente existem,/
por que será tantas opiniões / nunca jamais mudam, persistem?”
(Silmar Bohrer)

Qual a razão para emprestar algo que não queremos? E qual a receita para devolver o que pegamos emprestado? Luis Câmara Cascudo diz que “Quem empresta nem para si presta”.
A preocupação tem fundamento. Emprestar algo exige confiança recíproca e responsabilidade para devolver, além do investimento em tempo e afeto.
Ao emprestar estamos anunciando um tempo de transformações em que nos perguntamos: é um desafio? Mas, em pleno gesto, emprestamos com coragem e coração aberto para os dilemas que virão: o momento aposta na devolução.
Numa sociedade imediatista como a nossa, nem sempre as pessoas levam em conta o que prometem. A melhor maneira de encaminhar o assunto é com sinceridade e pés no chão.
O sucesso ao emprestar depende, principalmente, da atitude de quem empresta - desempenhar com seriedade a palavra assumida, que está mantendo o relacionamento e dando o melhor de si. Uma boa conversa entre amigos, a verdade sobre emprestar ou não, marca uma nova fase: a inquietude da espera para desatar o nó.
É necessário refletir: emprestar ou não? O limite é emprestar; o superar é devolver.
Emprestar é decisão pessoal e que deve preservar a história do objeto a ser emprestado. Combinar a devolução é essencial para preservar a amizade. Segundo Câmara Cascudo, “... cada objeto impregna-se do espírito da pessoa que o possui. Participa de todos os fluídos e forças anímicas.” A crença popular diz que quando emprestamos, a influência fica com o dono, os valores místicos ocorrem para o legítimo dono.
Muitas vezes, quando emprestamos, causamos em nós mesmos desconforto, medo e não temos desculpas para interromper o prazo concedido para a devolução. Em dias alternados, pensamos no objeto emprestado e sentimos os incômodos que se resumem numa “dor de cabeça” ou de cotovelo.
O conceito de emprestar tem significado bom ou ruim? É verdade que quem empresta dá adeus? Emprestamos dinheiro, ganhamos ou perdemos o amigo? Às vezes, emprestamos palavras e elas retornam em gestos carinhosos? Emprestamos o nosso tempo ouvindo as histórias dos amigos e cedemos nossos ombros para suas lágrimas.
Emprestar representa um dilema meu, seu ou nosso, porque pode significar esquecer o que foi emprestado em todos os sentidos da palavra. Ficamos com a sensação e a desconfiança de que os encantos da individualidade não serão preservados, desaparecerão; é a atitude comum à insegurança e a insatisfação em relação ao objeto emprestado, que a peça perde seu valor real e pessoal. Se formos ousados, a saída é justificar os ganhos e perdas. O diálogo nos leva a questionar a escolha: o momento, o amigo e o objeto. Nas palavras de Pedro Du Bois, “... aculturamos /... respiramos tempos iguais, o espaço / conquistado no entendimento; no comprometimento / as culturas se descobrem em pontos de encontros.”

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