Os dedos longos
Os dedos longos e finos com as unhas mal cortadas, deformando as pontas,
lentamente pressionaram as teclas e escreveram:
- Ao atravessar a rua descobriu...
Depois da palavra “descobriu”, os dedos pararam suspensos no ar, a
espera. O poeta olhou para os dedos imóveis. Tinha muita coisa para escrever.
Só não conseguia fazer com que os dedos agissem ao seu comando. Já que não queriam
lhe obedecer, foi até a cozinha e pegou o facão de cortar carne e decepou um
dedo. Os outros com medo, resolveram obedecer às ordens do poeta. E por mais
alguns tempos tudo correu normalmente. Até que um dia, repetiu-se a cena e mais
um dedo foi decepado. Assim foi sucessivamente. Hoje, O Poeta de Dedos
Decepados, como passou a ser chamado pela mídia inescrupulosa, vive trancafiado
num quarto isolado no Sanatório Municipal, escrevendo com dedos abstratos
palavras que só ele consegue ler.
pastorelli
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