segunda-feira, 15 de julho de 2013

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Viagens - Capítulo XI

Minas Gerais

Nas estradas interioranas de Minas Gerais encontram-se muitos vilarejos, onde as quitandas vendem todo tipo de doces. Uma em especial, além de doces vendia abacaxis. Um de meus companheiros de viagem gostava muito dessa fruta ácida e suculenta. Comprou logo uma dúzia delas. O abacaxi enquanto está fresquinho tem um aroma delicioso. Seguimos viagem pela Estrada Real, passando por lugares pitorescos e lindos rumo ao nosso destino, bem no interior do antigo e histórico patrimônio cultural mineiro.
Embora, nos lugares por onde passamos houvesse muita barraca com diversos comestíveis gostosos, nosso amigo não comia nada, somente abacaxi. Depois de muitas e muitas horas de viagem, inúmeras paradas para descanso e degustar do abacaxi doce e suculento, vimos que ele não estava passando muito bem. Encontramos um hotelzinho na beira da estrada, simples, mas muito asseado e acolhedor, e resolvemos parar para que ele descansasse. Mal entramos na recepção, vimos que ele sumiu por alguma porta que nem percebemos existir. Preenchemos nossas fichas, levamos nossas bagagens para os quartos a nós destinados, e nos esquecemos do amigo. Na hora do jantar, reunidos na sala de refeições do pequeno hotel, nos perguntamos onde andaria o homem do abacaxi. A moça que estava nos servindo disse que ele entrou para seus aposentos quando chegou, e não mais saiu. Pedimos que ela o avisasse de que estávamos à sua espera. Enquanto esperávamos, comentávamos sobre o dia. A moça voltou dizendo que ele não viria para jantar. Fiquei um pouco preocupada, já que o rapaz havia passado o dia todo só no abacaxi, sem ingerir mais nada, nem água.
Após a refeição deliciosa, porque mineiro sabe fazer comida caseira boa como ninguém, fui ver o que se passava com ele. Antes de bater na porta ele gritou lá de dentro: ‘estou bem, pode ir dormir’. Certo então. Fui dormir.
No dia seguinte, muito cedo, estávamos todos prontos para reiniciar nossa jornada. Faltava o nosso amigo abacaxizado. Surgiu ele, com o rosto macilento, a mochila pendurada no ombro, dizendo:
- Não quero gozação e brincadeirinhas de mau gosto pro meu lado. Vê se me esquecem. – dizendo isso foi jogando a mochila na caçamba da camionete, entrando para o banco de passageiros e fechou a cara.
Olhamos um para o outro segurando o riso. Mas, na verdade eu não sabia de nada. O motorista me chamou para o lado e confidenciou: ‘Parece que o abacaxi fez estragos no intestino do nosso amigo, e o pessoal da limpeza precisou retirar os forros da cama dele na madrugada’. Olhei para os demais, e todos estavam rindo às bandeiras despregadas. E o pobre amigo desaferrolhado queria sumir no fundo da caçamba, para onde se mudou quando todos começaram a rir.

Aprendi com ele, que abacaxi se come apenas como sobremesa.

1 Comentário

Fernando Rocha

Este ano ainda não fui para MG, mas em ler esta aventura, sinto meu desejo aguçado. (sem abacaxi!)