Minas Gerais
Nas estradas interioranas de
Minas Gerais encontram-se muitos vilarejos, onde as quitandas vendem todo tipo
de doces. Uma em especial, além de doces vendia abacaxis. Um de meus
companheiros de viagem gostava muito dessa fruta ácida e suculenta. Comprou
logo uma dúzia delas. O abacaxi enquanto está fresquinho tem um aroma
delicioso. Seguimos viagem pela Estrada Real, passando por lugares pitorescos e
lindos rumo ao nosso destino, bem no interior do antigo e histórico patrimônio
cultural mineiro.
Embora, nos lugares por onde
passamos houvesse muita barraca com diversos comestíveis gostosos, nosso amigo
não comia nada, somente abacaxi. Depois de muitas e muitas horas de viagem,
inúmeras paradas para descanso e degustar do abacaxi doce e suculento, vimos
que ele não estava passando muito bem. Encontramos um hotelzinho na beira da
estrada, simples, mas muito asseado e acolhedor, e resolvemos parar para que
ele descansasse. Mal entramos na recepção, vimos que ele sumiu por alguma porta
que nem percebemos existir. Preenchemos nossas fichas, levamos nossas bagagens
para os quartos a nós destinados, e nos esquecemos do amigo. Na hora do jantar,
reunidos na sala de refeições do pequeno hotel, nos perguntamos onde andaria o
homem do abacaxi. A moça que estava nos servindo disse que ele entrou para seus
aposentos quando chegou, e não mais saiu. Pedimos que ela o avisasse de que
estávamos à sua espera. Enquanto esperávamos, comentávamos sobre o dia. A moça
voltou dizendo que ele não viria para jantar. Fiquei um pouco preocupada, já
que o rapaz havia passado o dia todo só no abacaxi, sem ingerir mais nada, nem
água.
Após a refeição deliciosa, porque
mineiro sabe fazer comida caseira boa como ninguém, fui ver o que se passava
com ele. Antes de bater na porta ele gritou lá de dentro: ‘estou bem, pode ir
dormir’. Certo então. Fui dormir.
No dia seguinte, muito cedo,
estávamos todos prontos para reiniciar nossa jornada. Faltava o nosso amigo
abacaxizado. Surgiu ele, com o rosto macilento, a mochila pendurada no ombro,
dizendo:
- Não quero gozação e
brincadeirinhas de mau gosto pro meu lado. Vê se me esquecem. – dizendo isso
foi jogando a mochila na caçamba da camionete, entrando para o banco de
passageiros e fechou a cara.
Olhamos um para o outro segurando
o riso. Mas, na verdade eu não sabia de nada. O motorista me chamou para o lado
e confidenciou: ‘Parece que o abacaxi fez estragos no intestino do nosso amigo,
e o pessoal da limpeza precisou retirar os forros da cama dele na madrugada’.
Olhei para os demais, e todos estavam rindo às bandeiras despregadas. E o pobre
amigo desaferrolhado queria sumir no fundo da caçamba, para onde se mudou
quando todos começaram a rir.
Aprendi com ele, que abacaxi se
come apenas como sobremesa.
1 Comentário
Este ano ainda não fui para MG, mas em ler esta aventura, sinto meu desejo aguçado. (sem abacaxi!)
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