quarta-feira, 7 de agosto de 2013

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FLAGRANTES DE UM PLANTÃO DE HOSPITAL - SÔNIA PILLON

São seis e meia da manhã e o hospital está lotado. Desde a porta de entrada, passando pela recepção, sala de espera, corredores e leitos, não há uma vaga sequer! No balcão de informações, homens e mulheres ansiosos buscam notícias de familiares e amigos, enquanto os recepcionistas se desdobram entre os telefones e o atendimento, digamos, personalizado para os que não param de chegar.

O setor de emergência, no térreo, está completamente tomado, e há até pacientes atendidos no corredor, monitorados por aparelhos, entubados ou recebendo soro,que esperam por uma vaga na UTI. Com tanto movimento, a correria de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio é incessante. Aos seguranças, cabe a árdua tarefa de impedir as visitas fora de hora, sob pena de receberem cartão vermelho da direção.

Os acidentados têm a preferência no atendimento.Gestantes com contrações e em trabalho de parto também são conduzidas às pressas pelas ambulâncias.Os idosos chegam fragilizados,amparados por bengalas ou em cadeiras de rodas, geralmente acompanhados por filhos e netos. As mães chegam aflitas com seus filhos, no colo ou pela mão, a maioria com problemas respiratórios."Mas também, com um frio desses, quem é que agüenta?!", comentam entre si, solidárias, enquanto aguardam a chamada do pediatra.

Enquanto espera por uma brecha para falar com um médico do CTI, Maria se mantém sentada numa das cadeiras do gelado corredor de acesso. Logo inicia a troca de turno, e pouco a pouco os enfermeiros, auxiliares e médicos saem apressados para dar lugar aos que chegam.

"A noite foi longa!", comenta um deles a outro colega, enquanto espera o elevador, que parece não chegar nunca! Pouco depois, três estudantes de medicina iniciam uma animada conversa sobre as dificuldades encontradas no plantão, sem se importar com a presença de Maria, nem com o cartaz que lembrava: "Silêncio!". O elevador chega, e finalmente o barulho cessa, abruptamente.

A jornada finalmente tinha chegado ao fim para aqueles profissionais vestidos de branco, ansiosos por umas boas horas de sono. Mas amanhã é outro dia, e mais uma vez a rotina de lutar pela vida e fazer o possível para driblar a morte irá recomeçar. E também o corre-corre, os sorrisos e lágrimas que envolvem o dia a dia de quem passa pelo hospital. É... com saúde não se brinca!... Melhor prevenir do que remediar, diz a sabedoria popular...

Integra o livro “Crônicas de Maria e outras tantas – Um olhar sobre Jaraguá do Sul”, página 64,  lançado pela Design Editora, em julho de 2009.

Sônia Pillon é jornalista e escritora, autora residente dos sites de literatura “Letras et Cetera” e “Cooperativa de Letras”.

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