LÍNGUA PORTUGUESA
®Lílian Maial
Tudo começou quando lhe disseram
que a língua não cabia dentro da boca, que era uma língua de trapo. Aquilo
virou obsessão, entre o fascínio e a vergonha. Tinha uma língua enorme, que
batia no queixo. Fazia caretas inimagináveis, fazia música com a língua,
provocava. Nas festinhas, exultava se ganhasse uma língua de sogra. Ainda
criança, gostava de brincar de falar a língua do “pê”.
Um dia começou a lamber e não
parou mais. Lambia os beiços, lambia a borda do prato, a borda dos copos,
lambia os lábios. Era mestre em lamber. E adorava língua de gato! Desde que
começou a lamber a pele, nunca mais teve sossego. Havia filas de tudo que é
tipo de gente. Todos queriam ver a língua, sentir a língua, beijá-la. Depois
que casou, passava horas lambendo a cria.
Resolveu estudar línguas. Fez
inglês, francês, espanhol, alemão e italiano. Era muito simples, dominava a
língua como ninguém. Ocupava alto posto na diplomacia, graças à lábia e às
línguas.
Tudo ia bem, até que passou a não
falar a mesma língua. As más línguas mandaram que dobrasse a língua, mas não era
de seu feitio engolir a língua. Tinha tudo sempre na ponta da língua. Deu com a
língua nos dentes. Morreu com a língua de fora.
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1 Comentário
Por isso a língua é tão fascinante, sempre comporta a compreensão de mais de um: eu e o Outro (como bem diz o pensador Bakhtin)...muito bom seu texto!
Abraço do Pedra do Sertão
www.pedradosertao.blogspot.com
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