“Comandar
esses 60 trabalhadores para desbravar essas terras inóspitas não tem sido uma
tarefa fácil! Se bem que eu sabia dos desafios que ia enfrentar ao receber
essas terras dotais da princesa Isabel e do meu caro amigo, conde D´Eu. Quando
penso que chegamos aqui, margeando o rio Itapocu, rumo ao desconhecido, e
lembro da emoção que senti ao penetrar pela primeira vez esse vale... Ao avistar esse lugar lindo, de matas
exuberantes e águas cristalinas, tive a certeza que aqui é o lugar certo para
se prosperar... E essa sensação é muito forte dentro do meu coração!
E pensar que
eu, o engenheiro belga Emílio Carlos Jourdan, que já enfrentou guerras nessa
minha carreira de militar, agora enfrenta essa odisséia para colonizar esse
fértil Vale do Itapocu, com esses tantos índios, curiosos e temerosos de nós. O
Morro da Boa Vista nos olha soberano, enquanto luto com essa equipe para
instalar esse engenho de cana, a serraria, a olaria, e o engenho de fubá e mandioca. Investi todo o meu
dinheiro nessa empreitada! Essa Colônia Jaraguá tem tudo para se tornar o
futuro Eldorado. Sinto que um dia todos vão querer trabalhar e viver nesse
lugar mágico, onde tudo se planta e tudo frutifica.
Como é lindo ver esse povo com olhares brilhantes,
transbordantes de esperança. A força de trabalho desse povo brasileiro, da
aguerrida etnia negra, e dos incansáveis imigrantes europeus, essa deliciosa
diversidade cultural é fascinante! Sinto que um dia eles vão estar lado a lado,
crescendo juntos... E que esse dia não demore!
Já é madrugada e perdi a conta das horas. Todos já estão
dormindo e acho que vou fazer o mesmo. Amanhã é outro dia!”
Enquanto se prepara para descansar, Emílio Carlos Jourdan vai
lentamente fechando os olhos. O corpo está moído do esforço físico do dia e ele
rapidamente se entrega a um sono profundo.
De repente, Jourdan levanta e decide sair do leito. Ao sair fora da casa,
arregala os olhos espantado.
- O que é isso? Que prédios enormes! E essas chaminés? Cadê
os cavalos?
Anda mais alguns metros e olha as ruas calçadas e inúmeros
veículos. Desce até uma rua e olha um desfile. Ali estão pessoas vestindo
roupas que conhece, pelo menos! Estão segurando faixas. Mas o público se veste
de uma forma tão estranha... Vê que as pessoas o olham como se o reconhecessem,
e não entende mais nada!...
Um homem passa por ele e diz: - Parabéns, Jourdan! Vamos
comemorar os 137 anos de Jaraguá!
- Só posso estar sonhando com o futuro, diz Emílio Jourdan para
si mesmo, emocionado, enquanto avista uma menina negra, que lhe sorri e lhe
entrega um ramo de flores.
Sônia Pillon é
jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre e(RS) radicada em Jaraguá do Sul (SC), Brasil, desde 1996.
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