quarta-feira, 14 de agosto de 2013

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QUEIXAS


“Para que tanto queixume //... da Saudade / coração que a dor invade /
numa onda de perfume...” (Ernani Rosas)

Queixar-se é manifestar descontentamento. É impulso e emoção; a iniciativa que move as pessoas rumo a uma vida mais justa em prol do seu bem-estar. Ao nos queixar não estamos colaborando para o nosso crescimento pessoal e cultural, porque o importante não é reclamar, mas sim denunciar o mal e ter consciência dos atos e fatos. A queixa é instrumento pelo qual não podemos conquistar o que desejamos e nem transformar em aprendizado e produção essa inquietude interior, como revela Pedro Du Bois: “Aos que se queixam / da rapidez das horas // desdigo / a eternidade / esvaziada /em corpos / e almas // o esquecimento / se apropria da idéia / e permanece.” Ou Álvaro Pacheco, “A vida // Não podemos nos queixar //...Pelos resultados / não podemos nos queixar.”
A diferença está na consciência das pessoas, porque uma coisa é usar a queixa em nosso favor, para equiparar a perda /a ofensa, outra coisa é medir forças só com palavras: reclamar, reclamar e não tomar nenhuma atitude. Esse processo não nos estimula a enfrentar as situações que a vida nos apresenta. Helena Kolody escreveu: “Queixa // Tu, Senhor, que repartes os destinos: / Por que me deste o ávido quinhão / Do sonho, de tristeza e solidão?”
Percebo que os poetas dão significado às queixas ao repercutirem seus sentimentos e os reais problemas apresentados no decorrer de seus convívios e vivenciados em suas nas crises, como em Lêdo Ivo: “Queixa do editor de poesia // Poesia não se vende, / ninguém entende! / – suspira o editor. / Poesia! Poesia! / Ninguém te entende. / És como a morte e o amor.”
Os poemas respaldam o relatar das queixas, onde encontro a mudança, desfrutando a literatura como guia de vida entrelaçada ao questionamento como reclamação da realidade. Luis Delfino dos Santos coloca: “Queixa // Mulher, confias muito em tua eternidade: / Pensas que hás-de prender nas mãos a primavera, / Que as rosas da manhã durarão, que não há-se / Ter para ti o tempo o rugido da fera...”
Ao olhar sobre as situações percorridas em caminhos diversos o importante é reagir à dor, ao vazio e a todos os tipos de preconceitos, como disse Nilto Maciel: “Efêmera existência, / a cadeia de ilusões.// ...quando cuidamos, / tudo termina em nada, / tão ilusoriamente / como uma queixa efêmera.”

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