Tome aqui uma pazinha, experimenta o de
nozes com coco queimado. Ninguém em Itabira faz deste sabor, olha como é cremoso. Um pingo de
cobertura de chocolate caiu sobre o original de "Tardes de Maio",
outro dia. Sinal dos deuses de que devo descartá-lo, é a mancha da reprovação
de alguém que lá de cima é melhor em crítica literária do que eu em poesia.
Vai, Carlos, ser sorveteiro na vida. Darei ao "Tardes" o mesmo e
infeliz destino da "Máquina do Mundo" - o cesto de casquinhas
espatifadas.
Sigo vagaroso, de mãos pensas, apertando o passo e olhando tenso para o relógio. Daqui a pouco acaba a missa, e Deus deu a este magricela uma sorveteria bem no caminho de volta dos fiéis para suas casas. Escalda, sol, nos cangotes dos meninos que imploram picolés a todo custo, me arruma aí um bom faturamento para compensar a baixa inspiração. Imagina, dona, isso acontece. Já vou mandar passar um pano de chão rapidinho, fique tranquila. Cachorro não sabe quando e onde pode mijar...
Sigo vagaroso, de mãos pensas, apertando o passo e olhando tenso para o relógio. Daqui a pouco acaba a missa, e Deus deu a este magricela uma sorveteria bem no caminho de volta dos fiéis para suas casas. Escalda, sol, nos cangotes dos meninos que imploram picolés a todo custo, me arruma aí um bom faturamento para compensar a baixa inspiração. Imagina, dona, isso acontece. Já vou mandar passar um pano de chão rapidinho, fique tranquila. Cachorro não sabe quando e onde pode mijar...
Para de uma vez com esse negócio de
escrever, Carlos, bota todas as palavras pra gelar. Que se resuma a escrita, no
seu caso, a anunciar os sabores na lousinha, a banana split em oferta, a calda
de caramelo grátis pra quem escolher pistache de segunda a quarta.
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que amava todos os nossos
sundaes repletos de cerejas ao maraschino e farofa de nozes. Façam como a Lili
e venham se deliciar, com a família e com os amigos, no mais refrescante oásis
da cidade.
E agora, José? E agora nada, é abanar
as moscas e congelar os dias nesta pasmaceira que mal dá pro gasto. O aluguel
vai vencer, a matéria-prima vai subir, a conta de energia está pela hora da
morte. Itabira é mais que um retrato na parede, é o ganha-pão deste um que não
teve peito de trocar o ferro das montanhas pelas espumas do mar. Mas saio no
lucro, com meus sorvetinhos melados e nada necessários. Pelo menos não viro
estátua e nem me roubam os óculos.
© Direitos Reservados
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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e
colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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