segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

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O BARULHO OCO

Para Daniel Lopes


O homem atrás do volante desocupou as mãos, as palavras que nunca cessavam, fizeram um longo intervalo, caminhando, lentamente, dentro do silêncio.
No metrô não cabia mais a ele guiar seus caminhos, encaixou-se na multidão, mas havia uma fissura, um desajuste que o fazia pertencer sem fazer parte.
As almas mais sensíveis que se aproximavam, podiam sentir nele a emanação da angústia, mas há barreiras intransponíveis que não permitem afetá-lo com afeto.
Um filme: sequência de imagens que se comunicava com seu interior. Impressionismo na retina, sobre o qual só ele pode falar.
Retorno: o carro-cão-guia, numa estrada reta, curvas são imperfeições de quem tem como intento criar atalhos. Velocidade não é direção, não faz com que alguém fuja de si mesmo.

Desacelerar é a única forma de ver a sombra do seu próprio vulto.

2 comentários

Anônimo

Estamos sempre percorrendo nesta auto-estrada angustiante. Parabéns pelo excelente texto!

pianistaboxeador21

Obrigado, meu camarada. Presentão. Mas, como desacelerar? Valeu mesmo. Boa semana procê!