Para Daniel Lopes
O homem atrás do
volante desocupou as mãos, as palavras que nunca cessavam, fizeram um longo
intervalo, caminhando, lentamente, dentro do silêncio.
No metrô não
cabia mais a ele guiar seus caminhos, encaixou-se na multidão, mas havia uma
fissura, um desajuste que o fazia pertencer sem fazer parte.
As almas mais
sensíveis que se aproximavam, podiam sentir nele a emanação da angústia, mas há
barreiras intransponíveis que não permitem afetá-lo com afeto.
Um filme: sequência
de imagens que se comunicava com seu interior. Impressionismo na retina, sobre
o qual só ele pode falar.
Retorno: o
carro-cão-guia, numa estrada reta, curvas são imperfeições de quem tem como
intento criar atalhos. Velocidade não é direção, não faz com que alguém fuja de
si mesmo.
Desacelerar é a única
forma de ver a sombra do seu próprio vulto.
2 comentários
Estamos sempre percorrendo nesta auto-estrada angustiante. Parabéns pelo excelente texto!
Obrigado, meu camarada. Presentão. Mas, como desacelerar? Valeu mesmo. Boa semana procê!
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