quarta-feira, 5 de março de 2014

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O SER MULHER - SÔNIA PILLON

Todos os anos, no dia 8 de março, é dia de festa nas floriculturas e nos setores de comércio e serviços, que se empenham em oferecer opções de presentes e homenagens às mulheres. As manifestações de carinho são sempre bem-vindas, principalmente se quem a faz tem a genuína intenção de valorizar aquelas que se esmeram no seu papel familiar, social e/ou político.
Porém, é preciso ir muito além dessa prática, mais voltada aos interesses comerciais da data do que ao seu significado social. É preciso evitar o esvaziamento de seu sentido original, de luta por igualdade de direitos e oportunidades.

No Dia Internacional da Mulher, que transcorre amanhã, é fácil criticar o espírito combativo das radicais do século passado, que abriram caminhos hoje percorridos tranquilamente pelas gerações que as sucederam.

São poucas as mulheres que lembram a origem do 8 de março, em 1857, quando operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque, promoveram uma greve. Elas ocuparam a fábrica para reivindicar melhores condições de trabalho, como redução na carga horária semanal de 16 horas 
para 10 horas diárias, equiparação de salários com os 
homens, já que recebiam um terço para executar a mesma tarefa, e tratamento digno.

Na ocasião, 130 tecelãs foram trancafiadas dentro da fábrica e queimadas vivas. Foi somente em 1910, durante conferência na Dinamarca que o 8 de março passou a ser o "Dia Internacional da Mulher”. E em 1975, através de decreto, a data foi oficializada pela  Organização das Nações Unidas (ONU).

Hoje as mulheres estudam, trabalham, exercem o direito de comandar as próprias vidas, de votar e de participar ativamente das decisões do país. Podem decidir com quem querem se relacionar, e optar entre ter, ou não, filhos.

Sem dúvida muita coisa mudou, e para melhor, desde a tragédia de 1857. Mas é claro que ainda hoje ocorrem aberrações por conta do desrespeito de muitas empresas às leis trabalhistas, inclusive no Brasil. Falta de registro em carteira, não pagamento de horas-extras e assédio moral são ocorrências comuns, e não somente com as mulheres. Muitas vezes, essas práticas abusivas contam com a passividade de quem presta um serviço sem registro, imobilizado pelo medo de ficar sem o emprego.

Para mudar essa realidade, é preciso que as mulheres façam valer os seus direitos, não abram mão do que já foi conquistado a duras penas até aqui. Se hoje usufruímos de leis que nos protegem, relacionadas ao trabalho e ao Código Civil, como a “Lei Maria da Penha”, foi a partir da iniciativa de corajosas, à frente de seu tempo, nas mais diversas frentes de atuação.

A francesa Simone de Beavoir, a talentosa maestrina e compositora brasileira Chiquinha Gonzaga, e a primeira prefeita da América Latina, Alzira Soriano, de Lajes (RN), eleita em 1928, são alguns ícones da liderança feminina na cultura, nas artes e na política. Elas nos servem de inspiração até hoje, pelo legado de força e dignidade que deixaram.
Portanto, receba bem as flores e carinhos pelo 8 de março! Mas não esqueça que, junto com as homenagens, devem vir o respeito e o reconhecimento que você merece. Parabéns para nós, mulheres!


Sônia Pillon é jornalista e escritora, de Porto Alegre, radicada em Jaraguá do Sul (SC).

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