Os raios
solares ainda não tinham despontado no horizonte, apesar da noite já ter se
despedido, dando lugar à luz do dia. Enquanto subia vagarosa e tenazmente pela
trilha que o conduziria até o topo da montanha, o monge ancião, de longos
cabelos grisalhos e de barba comprida,
se apoiava no cajado para aliviar o cansaço. A roupa vermelha
de algodão rústico e as sandálias de couro ajudavam a manter o corpo mais
arejado. Se bem que a temperatura era amena. A primavera garantia dias de sol e
chuva intercalados e equilibrados.
- Ainda bem
que não é inverno, senão eu não conseguiria chegar até lá vivo... Ah, minhas pernas cansadas! Que saudade dos meus 20 anos! Hoje
o meu corpo parece um calhambeque velho que não sai da oficina...
Resmungar em
voz alta o fazia sentir menos solitário enquanto caminhava pela estrada
arenosa. Lá em frente, a poucos metros, já podia ver o solo começava a se elevar.
Respirou fundo, fez um alongamento e ajeitou as costas para encarar o morro.
Mais de oito
décadas haviam-se passado quando chegou ao mosteiro, levado por seus pais. Era
apenas uma criança, mas lembra quando eles comentaram ser uma grande honra para
a família ter um filho escolhido para a vida monástica.
O então
menino filho de agricultores não entendia por que sua mãe chorava tanto
enquanto o abraçava, muito menos por que seu pai o abraçou e evitou seu olhar.
Só depois entendeu que muito tempo se passaria até que os pudesse reencontrar,
já com as vestes monásticas...
Enquanto
caminhava e o sol timidamente passava a lançar seus raios, ele se recordava das
missões nas aldeias, quando levava palavras de conforto e ânimo para os
desprovidos da sorte. Lembra como se fosse hoje, os aldeões sorvendo uma a uma
das palavras do jovem monge, como se fossem um bálsamo. Levava esperança em
pequenas doses, como se fossem frascos homeopáticos.
Leigos e
discípulos, iniciantes e veteranos, e até visitantes céticos se reuniam para o
encontrar e também aos outros monges. Mesmo os mais descrentes não deixavam de
admirar as mensagens pacifistas, especialmente em períodos de guerra com os
países vizinhos.
E como não
se encantar sobre as seis perfeições? A caridade, a conduta ética, paciência,
energia, estabilidade meditativa e sabedoria transcedental, as virtudes que
levam à iluminação...
O monge se
agarra nas pedras e nos arbustos para subir, lentamente. Pouco depois uma
comitiva o aguardava com uma carroça.
Faltava
pouco, muito pouco... E então ele elevou os pensamentos até Sidharta Gautama, o
primeiro Buda, que a partir da Índia se espalhou pelo Oriente e Ocidente.
Finalmente alcançou o ponto onde era aguardado. Alívio total. Sem mesmo notar,
o ancião sorriu.
- João!
Joãooo! Ainda dormindo, homem? Esqueceu que hoje tem a aula de yoga no parque?
- Então está
explicado! Ha Ha Ha!, disse a mulher Dóris.
João se
vestiu rapidamente, pegou o relógio de pulso, calçou os sapatos e foi “voando”
para a escola. Era o dia de ensinar sobre a cultura oriental.
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