sexta-feira, 2 de maio de 2014

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enquanto tiver boca para as palavras, Rui Tinoco

enquanto tiver boca para as palavras
emudecerei o silêncio, os lentos olhos
do tempo. irei buscar imagens
à memória. porei os dedos entre
os dias, a ilusão de não ser água,
de não desaparecer em nuvem
que depois se precipita. deixai-vos
estar um pouco mais: imaginai
a chuva, o esplendor do verão,
uma luz forte que não desiste.
ide procurar imagens à memória:
a de um corpo pequeno mergulhado
no início da vida, a de uma chuva
primordial, geradora de mundos.
sintam, com os vossos corpos,
o fluir das horas, a combustão contínua
do sol. quem um dia nos chorar
saberá que as lágrimas têm também
a sua história.

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