para a Asta Vonzodas
Ele
fechou o livro ao mesmo tempo abriu a janela do ônibus e recebeu o ar da manhã
ensolarada que, em contrapartida, dissipou o cheiro de combustível que o
incomodava.
Fechou o livro. Sabia que precisava caminhar,
esquecer tudo para lembrar o nada cheio de nódoas corrompendo o mundo.
Durante quantos dias passou no convívio das
três mulheres? Uma em cada época, separada e, no entanto ligadas por um único
livro: Mrs. Dollway. Todas com um sofrimento, se doando cheia de compaixão
de si própria, tendo a alma carregada de aflições e angustia. O sofrer move
caminhadas, disse para si.
Nisso começou cair uma chuva fina anunciando queda de temperatura. Sentiu no rosto, nos cabelos uma aflição de suor frio que colava seu sentimento. Aliás, não preciso me preocupar mais com o horário, não preciso descer do ônibus apressado e quase correndo atravessar a rua, passar o cartão na catraca desejando que o elevador esteja no térreo evitando chegar muito atrasado, não ouvirei mais o chefe pedindo para maneirar no horário, não ouvirei mais, isto é, por enquanto pois não sei o que me acontecerá daqui a um minuto, se soubesse pouparia muita coisa. Dessa cilada estou livre, poderei cair em outra, mas dessa estou livre.
Nisso começou cair uma chuva fina anunciando queda de temperatura. Sentiu no rosto, nos cabelos uma aflição de suor frio que colava seu sentimento. Aliás, não preciso me preocupar mais com o horário, não preciso descer do ônibus apressado e quase correndo atravessar a rua, passar o cartão na catraca desejando que o elevador esteja no térreo evitando chegar muito atrasado, não ouvirei mais o chefe pedindo para maneirar no horário, não ouvirei mais, isto é, por enquanto pois não sei o que me acontecerá daqui a um minuto, se soubesse pouparia muita coisa. Dessa cilada estou livre, poderei cair em outra, mas dessa estou livre.
Uma onda de angustia deixava-o com sentimento
de ser uma pessoa pequena, e, essa pequeneza colocava-o nu, fazendo se entregar
sem perceber. Não era pequeno, o ônibus com suas poltronas é que o fazia
pequeno, assim como, o movimento das pessoas, da chuva, do rapaz que no banco
ao lado se espreguiça abrindo os olhos, o horário, tudo lhe vinha à noção
opressora de pequeno, de um grão de areia a rolar de um lado para o outro. O
mundo lhe era grande demais para conter toda a emoção que o envolvia. Não se
desesperava e, muito menos entrava em depressão, não, até se entregava como
forma de recuperar alguma coisa. Às vezes caia numa espécie de torpor que traduzia
como sendo tristeza, mas era algo passageiro.
Ao se preparar para levantar-se, uma folha de
papel caiu de dentro do livro. Era o poema da sua amiga, excelente poeta: Asta
Vonzodas. Queria lhe fazer uma surpresa. Queria compor um conto talvez, baseado
nesse poema: Caminhar, apenas. Aliás, era o que vinha ultimamente fazendo,
caminhar, apenas e nada mais. Leu o poema com atenção. Depois devolveu o poema
as folhas do livro. E enquanto caminhava mentalmente as palavras do poema batia
nas paredes da mente abafando os pensamentos que o afligia.
Caminhar, apenas
Asta Vonzodas
Caminhar apenas,
esquecer
de tudo.
Limpar
as nódoas
deste
corpo imundo.
Da alma?
O
sofrer
é
bem mais fundo.
Cai
do céu a chuva fina,
cola-me
ao rosto os cabelos.
Me
dispo e nua, me entrego
aos
céus em desespero.
Lavo
rosto, braços
e
com mãos de aço
tiro
do corpo
o
gosto do teu cheiro.
A alma chove
pelo
céu dos olhos,
inundando
o côncavo
dos
seios.
E permanece, pura,
invólucro
invisível
dos
desejos.
pastorelli
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