domingo, 13 de julho de 2014

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A MOÇA DOS OLHOS TRISTES

Para Márcia Barbieri

Os olhos claros estão se apagando, as chamas do sol já não são percebidas por eles. O que há dentro dela? Perguntou a si mesmo o homem que diariamente a admirava no caminho de volta para casa, dentro do ônibus. Parece trazer em si o vazio de antes de tudo, o caos da criação, o suspiro final do torturado, ou melhor, talvez o desejo de torturar a existência com esta dor tão grande: O corpo não vai suportar! Ela o tinha enxergado, mas não percebia que estava sendo observada, seguia sentindo a fragilidade de tudo, o ao redor tinha perdido o sentido, tornara-se leve como se com um sopro ela pudesse destruir tudo e todos. Mas não o fazia por uma pena-masoquista. Hora de desembarcar, ela mecanicamente, levantou, com um livro fechado em mãos, ficou pra trás, ele seguiu se questionando: À que ponto chegaria? A chuva lá fora seria o dilúvio que mergulharia aquele ser que carregava em si uma espécie inteira.



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