Tudo voltava à calma
Tudo voltava à calma, ao normal de sempre. Todos
envolvidos nas preocupações, cada um dos passageiros instalados em suas devidas
poltronas, entregavam-se ao sono com as cortinas fechadas dando ao ônibus um
aroma sombrio, soturno. Lá fora, a exuberante vida reage contra o que vai
dentro do ônibus. As freadas, os guinchos do freio, o andar lento por causa do
transito, levava-o a se irritar, a ficar impaciente, não conseguia escrever, a
caneta escorregava num garrancho feio, que em certos momentos era preciso
interromper, ficar a espera com a caneta suspensa. Era maçante, na verdade.
Maçante mesmo, terrivelmente maçante, odiosamente maçante deveria ser o
motorista. Quer dizer, para o motorista. Não posso dizer que uma pessoa é isto
ou aquilo, cem conhecê-la. E eu não conheço o motorista, nem vou conhecê-lo
como se deve se conhecer duas pessoas que começam a se ver todos os dias.
Talvez, não passe de um bom dia ou até amanhã, tão somente. Improvável será um
dia chegar ao ponto de convidá-lo para uma visita a minha casa ou eu visitá-lo
na casa dele. O máximo que poderá ocorrer é um convite para uma cerveja, e olhe
lá. Quer dizer, será difícil travar uma amizade maior, mais profunda que não
fosse além do bom dia ou até amanhã. Será tremendamente impossível, mas,
ninguém sabe o dia de amanhã, não é mesmo?
pastorelli
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