quinta-feira, 21 de agosto de 2014

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Pequenas histórias 111









A temperatura

 

 

A temperatura marcava seus números em quinze a vinte e dois graus, o que dizia temperatura baixa com fortes pancadas de chuva, no entanto o sol chapava seu clarão no vidro da janela do décimo segundo andar, refletindo seus raios no monitor o qual, causava dificuldade em ler o que escrevia. Não era esse pequeno contratempo que o impediria em escrever, talvez o que lhe impedisse fosse remanejar sua inspiração para dentro do tempo, da meia hora que voltou a ter antes do expediente.
Estava demais envolvido pela angustia de chegar atrasado que não percebeu o andar apressado que imprimiu aos pés. Quando reparou já estava passando o cartão para liberar a catraca. Já era tarde para um café. Seguiu em frente, tomou o elevador pouco se importando com o adiantado da hora.
- Bom dia. Ta chegando cedo, perguntou a bela Camila.
- Bom dia, Flor. Sim estou.
- Vem de fretado?
- Venho.
- Chegava atrasado...
- É que agora estou pegando um fretado que passa mais cedo.
- Muito cedo?
- Uma meia hora mais cedo.
- Legal! Assim pode pagar as horas atrasadas, não é?
- Isso mesmo.
Passaram o cartão registrando a hora em que entraram.
Agora estava ele imprimindo esses seus últimos atos dessa manhã que era para ser friorenta e, no entanto, resplandece clara com um sol que promete o dia inteiro. Rememorando seus últimos passos como marca que deixava no monitor guardado como arquivo de texto no Word. Impressões instantâneas, recentes de um movimento igual, mas diferente no seu interior. Na superficialidade todos os movimentos se parecem iguais, ao descer do fretado até chegar ao edifício, ligar o micro, acessar o Word podem parecer os mesmos de todos os dias. Mas num estudo profundo dos movimentos, pode-se notar as diferenças em cada fibra do movimento deslocando as moléculas, tanto do corpo como as moléculas do ar. Portanto aquele ditado: um dia após o outro, ou um dia igual ao  outro, sua memória nunca foi as das melhores, mas achava que fosse algo assim, todos os dias são iguais, é falso, mentira, nunca uma coisa pode ser igual a essa coisa, não há igualdade semelhante, e sim, igualdade dessemelhante, mesmo em gêmeos não há semelhança.
Sorriu. Satisfeito, clicou em Arquivo, Salvar como... E fechou o Word.

 

pastorelli

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