quinta-feira, 11 de setembro de 2014

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Pequenas histórias 114



Silvio e Silvia 3


 


Protegida! O que significa estar protegida? Se sentir segura? Ter confiança em sim mesma? Talvez, respondeu não muito convicta. Vivia um mundo alheio aquele em que Silvio vivia, a palavra protegida surgia em sua mente, fraca, desprovida da masculinidade a qual sua imaginação, talvez errônea, entendia. A masculinidade não estava no modo de viver, não estava na opção sexual, e, sim, nas atitudes, nos atos sem a pecha machista, mas na atitude forte e decidida. Olhando Silvio ao seu lado, entregue ao sono, podia dizer que entendia um pouco esse negócio de ser másculo ou afeminado. Não, ele não era nem um pouco afeminado, no intimo pensou, até desejou que Silvio fosse, porém, depois de conhecê-lo na intimidade dos lençóis, percebeu que era apenas uma questão de fantasia sexual. Sentia-se grata por ser ele másculo e não afeminado, quanto a sua preferência sexual, não queria saber, contando que nunca se esquecesse dela, como se dizia, essa questão não lhe pertencia, era outro departamento.
Vivia no quotidiano das preocupações. Corria no dia-a-dia das aflições sem desgastar sua intelectualidade. Preservava também, como podia o físico. Antes da sua amizade com Silvio, perambulava pela noite a procura do que não sábia a que procurar. No inconsciente a mente vibrava excitada pela aventura. Era arrastada como um objeto insignificante levado pela correnteza. Deixava-se levar. Deixava-se na esperança de encontrar um apoio, um ombro que a confortasse. Muitas vezes, pensando ter um ombro encontrava a faca do desprezo, da insanidade sexual, da insatisfação saciada na rapidez dos encontros. Saia desfragmentada a tal ponto que para se recompor, levava dias. Tinha noção dos perigos, não era inconsequente, mas na letargia do corpo vibrando emoção, quase todas as noites rolava pelas ruas vislumbrando o positivo. E todas as noites voltava para casa arrasada, desconsolada, prometendo que aquela seria a última noite. Prometia uma coisa que sabia não seria jamais cumprida. Mas prometia para sentir-se resoluta nas ações. O que não resolvia questão nenhuma.

pastorelli

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