domingo, 14 de setembro de 2014

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UM LIVRO OU UM ESPELHO?: RESENHA DA OBRA "O QUE EU DISSE AO GENERAL"



Em seu mais novo trabalho, O que eu disse ao general (São Paulo, Oitava Rima:2014), o escritor Anderson Fonseca demonstra grande domínio estilístico na condução das suas narrativas curtas, mas isso porque o estilo serve à expressão e não apenas mero enfeite. O livro não é uma coletânea de textos, cada micronarrativa foi concebida como parte de uma obra, o que justifica a aquisição de um exemplar.
Ao se deparar com o título e com as dedicatórias destinadas a grandes líderes políticos do mundo, o leitor pode presumir que se trate de uma obra de cunho ideológico-panfletário, contudo, se houvesse filiação ideológica nesta, estaria ainda por ser inventada, pois Anderson não poupa ninguém, lideres da esquerda como Fidel Castro e da direita como George W. Bush recebem homenagens dentro da obra. Talvez, esteja aí um novo tipo de anarquismo que ousa ir onde teóricos como Bakunin e Kropotkin não ousaram pisar.
O que está em xeque no livro é a humanidade e ao contrário da maneira como o senso-comum utiliza tal termo, aqui, Anderson descreve um tratado sobre o humano potencializando suas fraqueza e crueldade, quando este se torna um deus dentro do templo chamado poder.
A literatura desenvolvida pelo autor foca de maneira metonímica o universo da nossa espécie, onde cada pequena ação revela o que há atrás de cada discurso, sobrando nada mais, nada menos que o desejo de dominação. As palavras são como pregos de um caixão. Não sobra espaço para adjetivos supérfluos e metáforas sem sentido, tudo curto e grosso, mas com uma elegância rara dentro do atual cenário da literatura brasileira.
As dedicatórias de Anderson poderiam fazer referências a Maria, João, José, Pedro, Fernando, Joana, Virgínia, pois atrás da precisão onde cada palavra cria o meio necessário para que o leitor mais do que ler sinta cada estória, estão homens e independente do cargo que ocupam, para além do bem e do mal, são só humanos.



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