Em seu mais novo
trabalho, O que eu disse ao general (São Paulo, Oitava Rima:2014), o
escritor Anderson Fonseca demonstra
grande domínio estilístico na condução das suas narrativas curtas, mas isso
porque o estilo serve à expressão e não apenas mero enfeite. O livro não é uma
coletânea de textos, cada micronarrativa foi concebida como parte de uma obra,
o que justifica a aquisição de um exemplar.
Ao se deparar
com o título e com as dedicatórias destinadas a grandes líderes políticos do
mundo, o leitor pode presumir que se trate de uma obra de cunho
ideológico-panfletário, contudo, se houvesse filiação ideológica nesta, estaria
ainda por ser inventada, pois Anderson não poupa ninguém, lideres da esquerda
como Fidel Castro e da direita como George W. Bush recebem homenagens dentro da obra. Talvez, esteja aí um novo tipo de
anarquismo que ousa ir onde teóricos como Bakunin e Kropotkin não ousaram
pisar.
O que está em xeque
no livro é a humanidade e ao contrário da maneira como o senso-comum utiliza
tal termo, aqui, Anderson descreve um tratado sobre o humano potencializando
suas fraqueza e crueldade, quando este se torna um deus dentro do templo
chamado poder.
A literatura
desenvolvida pelo autor foca de maneira metonímica o universo da nossa espécie,
onde cada pequena ação revela o que há atrás de cada discurso, sobrando nada
mais, nada menos que o desejo de dominação. As palavras são como pregos de um
caixão. Não sobra espaço para adjetivos supérfluos e metáforas sem sentido,
tudo curto e grosso, mas com uma elegância rara dentro do atual cenário da
literatura brasileira.
As dedicatórias
de Anderson poderiam fazer referências a Maria, João, José, Pedro, Fernando,
Joana, Virgínia, pois atrás da precisão onde cada palavra cria o meio necessário
para que o leitor mais do que ler sinta cada estória, estão homens e
independente do cargo que ocupam, para além do bem e do mal, são só humanos.
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