Quem é Márcia Barbieri? Ou melhor, O
que é Márcia? Sim, ela parece conhecer a profundidade da natureza humana como
uma deusa antiga, ela é Shiva e com sua escrita não cria textos, mas mundos e
seres para habitá-los. Seus leitores perdem a autonomia e como vítimas de um
feitiço se tornam presas fáceis, no reino de Márcia, que como uma espécie de
Saturno devora não o corpo de suas marionetes (ex-leitores), mas sua razão.
Deixando-os livres para sentir, experimentar sensações desnudadas como talvez,
só possível numa existência pós-corpo.
Em seu mais novo romance A
Puta (terracota), mostra que
não perdeu a maestria no domínio do que se convencionou chamar de
prosa-poética. Mais do que parágrafos encontramos palavras que reconhecem a sua
limitação de sentido e por isso, como em uma batalha pelo direito às sensações,
elas golpeiam o leitor sem deixá-lo respirar, por meio de cada golpe são
desenterradas do corpo físico emoções que só podem ser encontradas num reino
além da lógica (Terra de Márcia). É preciso ter coragem para abrir este livro,
mas nem eu e nem a autora nos responsabilizamos pelo que lhe acontecerá.
Num mundo pós-colapso, numa aldeia
mística, sobrevive uma prostituta que por meio das situações vividas em sua
profissão, torna-se uma grande conhecedora do gênero humano e, talvez, caiba a
ela dar a luz ao novo ser, quem sabe ao que Nietzsche chamou de Homem Superior. Aqui observamos uma
possível intertextualidade com os textos bíblicos: No lugar de Maria, Maria
Madalena antes da conversão, no lugar de Jesus, um feto não identificado,
deixado aos cuidados daquela que tentou abortar seu primogênito.
A mesma rejeição de Platão aos
poetas, lá na República, é adotada aqui pela protagonista, contudo, num ato de
astúcia pura, os filósofos também não são bem vindos nesta terra. Qualquer
grego, alemão ou francês do cânone das ideias seria motivo de chacota da Puta
matriarca. Pois após o fim de tudo, de que servem as palavras e os conceitos?
Não sei se é um livro erótico, mas
como o sexo faz parte da existência, ou melhor, é onde ela é iniciada, está aí
o que a protagonista chama de partenogênese.
Inicia a leitura e goze no apocalipse que na obra é o inicio de um outro tudo:
Afeto, náusea, tesão e tensão. – Vamos,
Querido (a)! Não tenho dia inteiro! O programa já está pago, é só aproveitar!
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