In chaos theory, the butterfly effect is the sensitive dependence on
initial conditions in which a small change in one state of a deterministic
nonlinear system can result in large differences in a later state. The name of
the effect, coined by Edward Lorenz, is derived from the metaphorical example
of the details of a hurricane (exact time of formation, exact path taken) being
influenced by minor perturbations such as the flapping of the wings of a
distant butterfly several weeks earlier.
The butterfly effect
in the Lorenz attractor
O meu nome é Reinaldo. Eu sempre
prezei pelo bom gosto e a sofisticação, mas isso sem exageros, tudo dentro de
minhas possibilidades, sem que isso resvalasse nalguma obsessão, fetiche ou
ostentação. Trabalhar de segunda a sexta numa fábrica é rotina pesada; quem
faz, sabe. E dentre as pequenas recompensas às quais eu me permito, está o
prazer de degustar um bom café.
Eu não sou nenhum expert no
assunto, não sou barista, mas basta ter um pouco de tutano dentro dos miolos,
alguma massa cinzenta na cachola, e ler algumas poucas revistas especializadas
para saber que o melhor café do mundo é o Kopi Luwak.
Esse nome, Kopi Luwak, na língua
indonésia, designa o Café Civeta. As civetas, essas criaturas admiráveis, são pequenos
mamíferos, leves, arborícolas e da mesma família do gato-almiscarado.
Especialmente na Indonésia e nas
Filipinas esse animal gracioso – a civeta – tem também por hábito se alimentar dos
pequenos frutos que ele mesmo extrai, diretamente, dos pés de café. Os frutos
são processados no estômago do animal. A fabulosa enzima da civeta não é capaz
de digerir o grão do café; ela tem, porém, a propriedade de lhe prover uma
espécie de tratamento superficial – que é o responsável pelo sabor menos ácido e amargo do Kopi Luwak com
relação ao café comum, imprimindo-lhe o toque característico de alquímica
composição do chocolate com o suco de uva.
É evidente que o produto final desse processamento dos grãos pela civeta
resulta numa espécie de chokito molengado (não podia ser diferente). Mas a
natureza é sábia, existem homens de gênio e imaginação, verdadeiros
visionários: um desses indonésios de estirpe descobriu que bastava passar com
os chokitos na peneira através de um jato d’água para que restassem tão somente
os grãos do café, prontos para serem torrados, moídos e vendidos pela bagatela
de 2500 reais (ou vinte e cinco de nossas preciosas garoupas).
Eu me orgulho de já ter provado o
legítimo Kopi Luwak numa viagem que fiz a Londres. Custou-me quatro de minhas
garoupas a xícara. Mas, modéstia a parte, eu sou um cara bastante sagaz, de
modo que o meu maior orgulho é outro. Afinal, viver como assalariado da
indústria brasileira, ter bom gosto e sofisticação é para poucos e bons. E haja
jogo de cintura!
Eu não sou nenhum expert no
assunto, mas tenho a criatividade e o raciocínio a meu favor. Quem me ouve
falando assim pode, a princípio, imaginar “esse Reinaldo é um arrogante, ele se
acha”! Quando, em verdade, não é nada disso. Modéstia a parte, sou apenas
ciente daquilo que sou capaz. E provo. Eu não preciso matutar ou estudar muito
para saber que o melhor vinho brasileiro é aquele que vem do sul. E isso – a
despeito de toda a sapiência, o formalismo e a elucubração dos enólogos – tem
uma explicação muito, mas muito simples: as vinícolas do sul são basicamente
familiares; com famílias de origem alemã, italiana, polonesa, ucraniana; que
geram belas filhas louras, de lindos olhos azuis; os filhos homens ajudam os
pais na lavoura, nas suas videiras; as matriarcas são propriamente as
responsáveis por cuidar da fermentação do suco; mas são as jovens louras, em
tenra idade, no esplendor de seus onze aos treze anos, aquelas a amassarem com
os seus pezinhos as bagas de uva; e elas são virgens. Voilà! E isso eu chamo de
raciocínio lógico indutivo.
Mas parece que eu já ia perdendo
o foco... Eu estava abordando o meu maior orgulho, a minha invenção, sobre a
qual eu não posso entrar em profundos detalhes por ser objeto de um pedido de
patente: o Café Reinaldo. Posso dizer apenas que foi desenvolvido por
similaridade ao Kopi Luwak, alcançando a mesma excelência em termos de aroma e
sabor; com a grande vantagem de que o Café Reinaldo é muito mais barato. Como
eu consigo isso? Segredo! Aguarde e a história do barismo dirá de si mesma.
Cada coisa ao seu tempo.
Além disso, posso narrar apenas
de um pequeno contratempo que tive durante o aperfeiçoamento do Café Reinaldo. Trata-se
de um sutil acento de uréia que insistia em se imiscuir às notas achocolatadas e frutadas do Kopi
Luwak. Depois de alguns meses de reflexão a este respeito eu me apercebi que,
devido às pressões da demanda de trabalho, quando eu ia até o banheiro da
fábrica para uma rápida mijada, e a pia estava ocupada, eu saia batido. E foi daí
que eu aprendi da real importância de lavar as minhas mãos.
É como eu sempre digo:
criatividade, raciocínio, paciência. Sobretudo, muita paciência. Cada coisa ao
seu tempo.
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