sábado, 15 de novembro de 2014

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O VENCEDOR ESTÁ MORTO, DE BERNARDO ALMEIDA

Quando um autor vai lançar seu primeiro livro, a tensão toma conta do seu corpo, a vaidade travestida de felicidade em ver seu nome na capa brilha, as palavras que irão compor a sua fala martelam dentro de sua cabeça, de modo a parecer que quando ditas foram arquitetadas pelo acaso, contudo, ao me ver envolvido em tal situação,  recordo que havia mais três autores ao meu lado, quando nos foi solicitado para ler um trecho de nossas obras, o cara que estava mais próximo a mim me hipnotizou com o trecho do seu conto, mas apenas quase um ano depois pude ler a obra e valeu muito a pena.
O tal livro é O Vencedor está Morto, de Bernardo Almeida que não cai no blá blá blá pós-moderno da convergência dos gêneros literários, o livro tem norte certo: O conto. Que ressignifica o quê ao trabalhar de maneira e certeira o como, acentuando as três narrativas que compõe a obra estilo e originalidade.
A maneira como a escrita é lapidada, talvez, esteja ligada a uma das habilidades fora da literatura que o escritor baiano exerce: O jornalismo. A narração em terceira pessoa mostra um olhar atento para a sociedade, os crimes que fazem parte dos enredos, demonstram que por trás do texto, há um olhar sensível, coisa nem sempre presente no atual cenário literário brasileiro calcado na estética sem sustância.
O enredo é o trunfo mais forte na literatura de Bernardo, pode-se até cometer o exagero em se afirmar que no conto homônimo ao título do livro, é ele o protagonista, pois partindo de uma narração em primeira pessoa feita por um outsider, nos 44 minutos do segundo tempo, ou seja, no clímax da narrativa, o escritor nos surpreende com um desfecho que faz o leitor dar aquele sorriso de canto de boca, como quem diz: Me pegou!
As personagens do contista estão à margem da sociedade são questionadoras como na primeira estória tratada no parágrafo acima: Não que eu precise de mais tempo livre que os outros. Eu apenas tenho, mais que os outros consciência de que preciso de mais tempo livre. Elas não sofrem com o desejo de entrar na sociedade, elas abrem mão do sonho que é pertencer, apenas fazem parte e contestam o que é comummente chamado de real.
A segunda narrativa, Amor de Perjúrio tem como tema o ciúme, sentimento sobre o qual muitos já escreveram, contudo, raramente a neurose é enfocada e conduzida à enésima potência: Hiper-realismo. Se a realidade não coopera para que suas desconfianças se tornem verdade, altere a realidade dê uma mão, pois você está sempre certo, é um perfil do protagonista do conto que tem um eco ressoando incessantemente em sua cabeça: Todas elas são dissimuladas...
Na terceira e última narrativa, Acorde Violento, Bernardo demonstra todo o seu arsenal com tamanha maestria, o enredo mescla crime e arte, possibilitando assim uma leitura da mídia de espetáculo como talvez, nenhum outro autor tenha conseguido escrever: A morte e a tragédia me foram mais generosas em poucos meses do que a vida normal que carreguei nas costas durante anos.
Perca o receio de vencer, junte-se aos personagens desta obra e enxergue melhor o mundo que te cerca.



1 Comentário

pianistaboxeador21

Fiquei com vontade de ler, desde aquele dia em que você me falou a respeito. Depois quero o livro emprestado! Bela resenha. Gostei muito do trecho retirado do conto que empresta o título ao livro, aquele sobre se ter consciência de que se necessita de tempo livre.
Abração,