terça-feira, 22 de setembro de 2015

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PÉROLAS



Pego a foto na caixa de lembranças e nela encontro a beleza de quem olha a hora: pérolas. As horas passam e o sentimento paira sobre mim. Nilza D. Piagge diz, “Ai de mim, sem ti! / transformação de colar de pérolas.../ Me abraço / Solitária te busco em mim //... Procuro entender as formas / as cores...”
Cubro o rosto e a memória do colar de pérolas está na saudade. As lembranças ao tocá-lo voltam em forma de sombras a manter o meu sorriso. Segundo Igor Fagundes, “... em sorrisos sempre o tempo se eterniza / e as histórias... se confundem / desaba a tarde e a manhã de novo ali / no meu espelho e me pergunto – é teu sorriso?” Sobrevivo às armadilhas da vida, porque não me rendo às pérolas, apenas traduzo no rosto o olhar que não retém a lágrima, não explica a marca do sorriso e nem a linha do destino. Mário Benedetti escreveu, “... pérolas é segredo / e é brilho pranto festa cavidade / e outras alegorias...”.
O colar de pérolas marca o compasso do tempo e não é descartável, porque sou autêntica em mim mesma. É a minha identidade ao toque, como o véu em sonhos. É ilusório quando meus sentidos murmuram falsas promessas, como se não tivesse valido a pena guardá-lo. Mas, é guardando que espero revelar o meu dia e lembrar a sua história, como um grito no horizonte, onde retenho a palavra secreta sobre o seu silêncio. Pedro Du Bois, expressa, “...burilada / a pérola / desenvolta / encanta / os sentidos.”
O colar de pérolas lembra as noites em que o brilho dos seus olhos estiveram sobre mim. Flores e espinhos que me conduzem diante do tempo ao modular minha face e fase. Entre estilhaços de momentos, certezas e incertezas, o tempo guarda as pérolas ornando o meu retrato desgastado. Contemplo o momento guardado em si mesmo, que se desintegra em mim, como em Yun Jung Im, “... Se a insônia me persegue... / em que sonho / poderei ver-te?”; e em Sonia Regina, “entre o avanço e o recuo sou eu / um corpo abafado pelo orgulho. / meio surda medro como uma planta. / minha voz cresce sem consentimento...”.
As pérolas trazem na rotunda veste a mágica da cena na incerteza da lembrança, juntamente com o sorriso saudoso refletido quando avisto a caixa de lembranças. Pedro Du Bois ressalta, “... minhas lembranças estáticas / serão guardadas / até que o novo dia / se apresente...”, e Lindolf Bell alerta, “... em armazéns do tempo / as coisas permanecem / mais tempo / que o tempo destinado...”


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