Nas sombras do sol
Nas sombras do sol rente a parede, caminhava despreocupado. Não pensava em nada, quer dizer, em nada que fosse considerado por ele, naquele momento, como importante. Cabeça erguida, ombro levantado, dava-lhe a sensação de estar esticando os músculos das costas fazendo com que a dor diminuísse. Precisava ficar atento, acostumado com uma postura relaxada, quando menos notasse os ombros estavam caídos para frente. Tinha que caminhar não retesado, de uma maneira que não se sentisse teso, sem que o corpo, os músculos, enfim, a carne toda do corpo sentisse a tensão do dia-a-dia. Era o que vinha pondo em prática nesses últimos dias. Assim, conseguia caminhar longo percurso sem sentir a perna dolorida, e, tinha se prometido – se cumpriria era outros quinhentos - mas tinha prometido quando fosse possível, faria uma e gostosa caminhada. É, fazer tudo bem, o problema era dar continuidade. Sabia que começaria com entusiasmo, com vontade, porém, um tempo depois, um mês ou um pouco mais, acabava desistindo. Parava. Mesmo por recomendação médica não tinha jeito que o fizesse continuar. Podia ficar despreocupado, pois ninguém mais o molestaria recomendando a não parar. A princípio enchiam a paciência dele, chovia recomendação em cima de recomendação; a mãe vingativa não cozinhava o que ele gostava, o pai dava-lhe uns cascudos para saber quem mandava a irmã poucas vezes retrucou o seu procedimento. Enfezado saia para a rua, voltava só a noite, onde ouvia de novo as admoestações de sempre. Por isso tomava seu banho, jantava o mais rápido, sem abrir a boca, e subia para o quarto, passava a chave, deitava na cama até que o sono viesse dominá-lo.
Pastorelli
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