Roseli Pedroso á autora do livro de
contos Recortes (de vidas), lançado
em 2014, possui textos publicados nas antologias Abigail, Corda Bamba e Buracos Ocultos, contribuiu com contos
para as revistas Plural e Escrita contemporânea, ela mantém o blog
Sacudindo ideias. Graduada em
Biblioteconomia, pós-graduada em criação literária.
Por conta da sua profissão você
passa os dias cercada por livros físicos, contudo, mantém um blog e é leitora
atenta de outros. Quais as diferenças na recepção dos textos emitidos por estes
dois veículos?
R:
Fernando, leio muito. Aliás, já li muito mais que agora. Independente do
veículo, encontro de tudo. Excelentes textos, medianos textos, horríveis textos
(risos). Mas o que mais gosto, é de ver as pessoas perdendo o medo de escrever.
Isso para mim é um ganho, pois houve época em que as pessoas eram mais travadas
na escrita. Aqui, na biblioteca onde trabalho, infelizmente, o livro impresso
tem perdido para a internet com suas redes sociais. Mas não vejo isso como algo
negativo, mas sim, como transição. Só precisamos aprender a trabalhar com essas
diferenças e explorar melhor seu uso.
Como você avalia a perda de espaço
dos blogs para as redes sociais e quais os impactos disso na propagação da
Literatura?
R:
Como tudo tem seu lado positivo e seu lado negativo. Blogueira que sou desde
2006, através de meus blogs, fiz muita amizade boa. Já nas redes sociais, de
sociabilidade se tem muito pouco ou quase nada. Observo muito ego inflado só
querendo suas curtidas em seus escritos. Mas por outro lado, é uma excelente
plataforma para levar a mais pessoas seu trabalho.
Recentemente você participou da
coletânea A Sul de nenhum Norte
(Scenarium), a qual tem uma proposta pouco comum, junto com mais três
escritores você selecionou textos de autores contemporâneos. Em quê a leitura de tais autores contribui
para a sua escrita, se é que há contribuição?
R:
Gostei demais de participar desse projeto. Selecionar meus escritores
contemporâneos foi ao mesmo tempo fácil e muito difícil. Sei que fui injusta
com muitos autores bons, mas como tinha que escolher dez autores, fui pela
minha sensibilidade ao ler seus escritos. Cada um a seu modo mexe com minhas
emoções e sem dúvida, contribuiu com minha forma de escrever também. Não que eu
me espelhe neles, mas servem de mestres para melhorar meu desenvolvimento na
escrita. Sou uma eterna e assumida aprendiz.
No seu conto A mão, o tema do absurdo aparece em meio às reviravoltas que a
narrativa apresenta ao leitor. Como a percepção do absurdo no cotidiano vira a
violência de onde brota a escrita?
R:
Esse conto é um de meus preferidos. Ele ficou um bom tempo aparecendo através
de sonhos até que percebi que daria uma boa história. Essa é uma das facetas de
minha narrativa. Gosto de histórias absurdas que mostram que não são tão
absurdas assim em nosso cotidiano. A realidade dá de dez a zero na ficção
muitas vezes (risos). Sempre digo que sou uma Voyeur. É justamente observando o outro, espiando suas janelas,
tentando imaginar suas vidas que crio minhas histórias.
Nos contos Amarelinha e Em algum lugar
em mim, há uma procura do narrador-personagem
pelo eu da infância. Este é um dos principais temas da sua literatura? Se tal
busca chegar ao fim, o que será encontrado?
R:
Esses dois contos sempre me fazem ficar de olhos úmidos. Canceriana legítima sou uma saudosista
assumida. E, apesar de uma vida difícil em todos os aspectos, fui uma criança
feliz. Talvez por isso mesmo, sempre que a adulta se sente ameaçada pelas
dificuldades, a criança vem em socorro. Por isso escrevo tanto sobre a
infância. Olha Fernando, não sei se essa minha busca chega a um fim e também
não faço ideia do que encontrarei. Por isso, continuo escrevendo. É uma eterna terapia.
Em Manhã diferente aparece uma mistura de conto com crônica, sugerindo
a ideia de que um texto surge da junção de olhos e pernas (caminhada e
observação). É certo afirmar que a sua escrita começa aí?
R:
Começa. Ando muito e isso também é um exercício para minha mente. A caminhada
pela cidade é uma beleza. Muita riqueza de detalhes e personagens que surgem a
cada esquina, a cada rosto que foco. Outro dia, esbarrei num livro chamado A arte de caminhar: o escritor como
caminhante, de Merlin Coverley. Esse livro só veio reforçar meu hábito de
caminhar e elaborar histórias para se colocar no papel. Aliás, como
bibliotecária e leitora, deixo aqui essa grande sugestão de leitura.
O último texto de Recortes de vidas (Possibilidades)
apresenta um fôlego maior, levando em conta a pressão natural para a escrita de
um Romance. Há planos para algo dentro deste gênero?
R:
Sim! Já tenho uma história começada desde o curso de criação literária. Um
romance policial que já contém nove capítulos prontos. Isso me faz lembrar que
preciso retomá-lo. Fora esse, tenho um livro pronto de literatura juvenil que
já passou por revisão e preciso dar uns retoques e mudar ou acrescentar algumas
coisas. Quero muito publicar essa história.
Em que ter participado de oficinas
literárias contribuiu para a sua leitura e consequentemente, para a sua
escrita? Você sentiu medo de que a técnica pudesse acanalhar o seu impulso
artístico?
R:
Ter participado dessas oficinas me deu a certeza de que é isso mesmo que gosto
de fazer. Contudo, o principal papel delas foi me dar segurança para expor meus
escritos que até então, guardava a sete chaves. Tinha ciúmes e medo do que
pensariam de mim ao ler meus textos. Hoje, adoro ser lida e quero mais e
compartilhar com todos.
Roseli, o seu livro de contos foi
lançado em 2014. Você está trabalhando em algo para ser lançado brevemente?
R:
Sim, Fernando. Travo um namoro com uma editora desde o ano passado e até já
poderia ter publicado, mas preferi maturar, reescrever, cortar, revisar
inúmeras vezes. Essa última revisão foi feita final de 2015 e agora faço meus
últimos reparos e espero publicar esse ano. Estou muito feliz com eles e em
especial com dois textos que se conversam entre si. Em minha opinião, os
melhores do conjunto e emprestam, inclusive, o título ao livro.
Como se deu o contato inicial com a
editora Scenarium?
R:
Conheço a Lunna Guedes desde que fiz meu primeiro blog. Nessas andanças pelos
blogs, nos conhecemos e passamos a seguir uma o blog da outra. Ela já vinha me
convidando a escrever há um bom tempo e eu sempre declinando respeitosamente.
Não me sentia ainda segura para “doar” um texto meu. Até que me deixei vencer
pelos convites e pela pessoa de Lunna que é sedutora (risos). Desde então,
sempre participo com alguma coisa. É bom. Gosto do projeto e através dele tenho
conhecido excelentes pessoas e suas escritas.
Você já participou de antologias e
revistas literárias, qual o papel deste tipo de publicação no atual cenário
literário?
R:
Acredito que levar boa literatura de uma forma mais informal. As editoras são
mais “engessadas” para publicar e divulgar. Já essas revistas, dão
possibilidades e visibilidades para quem desejar iniciar essa caminhada
literária.
Por que ler os textos de Roseli
Pedroso?
R:
Posso estar enganada, Fernando, mas meus escritos, de alguma forma, chegam ao
leitor destravando e tocando seus sentimentos. Escrevo aquilo que é universal.
Falo sobre infância, vivência, amores, desamores e até a violência que nos
ronda, se traduz em meus textos. Falo daquilo que me emociona e acredito que
dessa forma consigo travar um diálogo com meu leitor. Portanto leitores me
leiam! (risos)
7 comentários
falar do que nos emociona, de alguma forma toca,se não a todos,à alguém... emocionalmente! (ligia regina)
Essa entrevista deu vontade de sair da internet e ir ler.
Vou atrás desses contos agora!!!! rs
Parabéns Roseli.
Luh Tiburcio
Roseli é uma escritora que derrama não apenas tinta sobre o texto, mas sensibilidade. É sempre prazeroso ler entrevistas como essa, que nos aproxima da mente e da alma de escritores que nos encantam com suas peças literárias. Parabéns, Roseli! Saudades!
Muito boa a entrevista. Melhor ainda foi Roseli valorizar a leitura. Afinal, quem não lê coisas boas não é capaz de produzir coisas boas. Simples assim.
A mão, texto fantástico que merece virar trilogia. Queremos mais.
A mão, texto fantástico que merece virar trilogia. Queremos mais.
A Mão me deixou intrigada... Excelente!
Roseli é uma escritora ousada que entra no íntimo das pessoas e arranca os mais sórdidos ou os mais doces segredos descrevendo lindamente.
Muito sucesso pra ela!
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