quarta-feira, 6 de abril de 2016

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Pequenas histórias 205


Dez horas


Dez horas e cinquenta e seis minutos do dia dezenove de agosto de dois mil e oito. E o sol esquenta a cabeça das formigas reclamantes da temperatura. Invalida a música soa transformando ouvidos moucos e descartáveis. A água da piscina bate na borda e volta ao movimento dos corpos obesos e falidos. Comem-se infectados corpos guardando a saúde nas academias os músculos das Barbeis refletidos no espelho da vaidade. Pés equilibram-se nas calçadas a caça as bruxas no amor podre e obscuro dos motéis. Preocupações rolam no gramado milionário da fama rápida cheia de futilidades. Bandeira esconde debaixo do braço a desconsideração do governo ladrão e corrupto.
Onze horas e cinquenta e dois minutos do dia dezenove de agosto de dois mil e oito. O sol continua inclemente na mostra de corpos arrojados que se expõem na vitrine da vaidade. Abraço a ilharga da cidade e me exponho ao sexo malandro e safado. Gozamos o dia e choramos a alegria esperando novas aventuras. Gozamos a morte num pequeno e ínfimo instante ejaculando suores de satisfação. Tudo é sequencia de ações corriqueiras aparentemente, mas que no fundo de cada um deixa a marca na profunda carne. O sangue desfibra as veias manchando de pálido olor os olhos verdes e mortiços daquele que se diz amado.
Doze horas e quarenta e nove minutos do dia dezenove de agosto de dois mil e oito. Inclemente o sol despoja-se em alargadas sombras míseras pelas calçadas e asfalto. Corroem-se famintos da fome na solidão dos corpos molambos de saudades. Corroem-se sentimentos prisioneiros com medo da liberdade. Corroí-se a liberdade em ter os sentimentos expressos sem preconceitos despojados daquilo que cada um almeja. Nem todos têm a mesma importância na vida de todos. Cada um acha-se importante dentro de sua capacidade evolutiva financeiramente e socialmente falando.
Treze horas do dia dezenove de agosto de dois mil e oito. Alarga o sol sua inclemência. Coloco o ponto final, fecho a mente, deslizo os dedos e me ponho a fazer o que não quero para a sobrevivência dessa carcaça molambenta.

Pastorelli

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