sexta-feira, 3 de junho de 2016

0

GOSTO DE SANGUE



Há muitos livros que tratam do campo da estética no mundo das artes, contudo, há poucos ou nenhum que aborde a sinceridade como elemento fundamental na construção artística, sim, isto pode ser considerado senso-comum, eu sei, o que não interessa ao refinado senso estético da academia ou dos chiques profissionais, mesmo que a forma seja utilizada como embrulho para o nada (sem metafísica).
Para além de arranjos bem elaborados, harmonias sofisticadas, letras poéticas, por que há aqueles músicos que nos tocam, mesmo com poucos acordes, harmonias simples, gravações em quatros canais? Talvez seja aquilo que o escritor Juliano Garcia Pessanha chama de cheiro de sangue, ou seja, ter escrito no corpo antes de Meninos tomando leite levado pela mãe que escrevem como beatniks, não convencem muito, você há de concordar comigo?
Ao ler Lanterna mágica, biografia do cineasta Ingmar Bergman, é possível compreender o incômodo que sentimos com o silêncio, a sensação produzidas pelas excreções, a violência dos diálogos e os closes que parecem revelar a alma humana em seus filmes, obviamente, há o domínio da técnica, mas este só serve de meio para a expressão dos resíduos deixados pela experiência.
Em De profundis, Oscar Wilde cospe sangue como quem recebeu um direto na boca do estômago, deixa o melado escorrer para fora da coagulação da arte pela arte, produzindo um dos mais expressivos primeiros parágrafos da literatura do século XX.
Em nosso tempo, mesmo com uma manada de encouraçados pelo oco, há artistas pelos quais você não consegue passar indiferente por suas obras. O cantautor Jair Naves, o letrista mais expressivo desses dias, quem já entrou em contato com sua música, sabe da aura instaurada por meio de letras, acordes e harmonias.
 O escritor (tem tanto canalha usando este termo que nem sei se é justo usá-lo para me referir a ele) Juliano Garcia Pessanha, que nos atravessa com a sua poética inclassificável, marcando em cada passagem de página o interior de quem o lê.
Márcia Barbieri, com seus livros que fazem do sexo o cume da inadequação do humano (os tarados travestidos de intelectuais não se atentam a isso), busca por meio de metáforas com o ato sexual a libertação, criação do mito pós-destruição, possui uma obra que deve ser sentida palavra por palavra, sensação por sensação. Experimente-os, depois sentirá dificuldade em se contentar com arte-água-com-açúcar.

Seja o primeiro a comentar: