Há
muitos livros que tratam do campo da estética no mundo das artes, contudo, há
poucos ou nenhum que aborde a sinceridade como elemento fundamental na
construção artística, sim, isto pode ser considerado senso-comum, eu sei, o que
não interessa ao refinado senso estético da academia ou dos chiques profissionais,
mesmo que a forma seja utilizada como embrulho para o nada (sem metafísica).
Para
além de arranjos bem elaborados, harmonias sofisticadas, letras poéticas, por
que há aqueles músicos que nos tocam, mesmo com poucos acordes, harmonias
simples, gravações em quatros canais? Talvez seja aquilo que o escritor Juliano
Garcia Pessanha chama de cheiro de sangue, ou seja, ter escrito no corpo antes
de Meninos tomando leite levado pela mãe que escrevem como beatniks, não convencem muito, você há de concordar comigo?
Ao
ler Lanterna mágica, biografia do
cineasta Ingmar Bergman, é possível compreender o incômodo que sentimos com o
silêncio, a sensação produzidas pelas excreções, a violência dos diálogos e os
closes que parecem revelar a alma humana em seus filmes, obviamente, há o
domínio da técnica, mas este só serve de meio para a expressão dos resíduos
deixados pela experiência.
Em
De profundis, Oscar Wilde cospe
sangue como quem recebeu um direto na boca do estômago, deixa o melado escorrer
para fora da coagulação da arte pela arte, produzindo um dos mais expressivos
primeiros parágrafos da literatura do século XX.
Em
nosso tempo, mesmo com uma manada de encouraçados pelo oco, há artistas pelos
quais você não consegue passar indiferente por suas obras. O cantautor Jair
Naves, o letrista mais expressivo desses dias, quem já entrou em contato com sua
música, sabe da aura instaurada por meio de letras, acordes e harmonias.
O escritor (tem tanto canalha usando este
termo que nem sei se é justo usá-lo para me referir a ele) Juliano Garcia
Pessanha, que nos atravessa com a sua poética inclassificável, marcando em cada
passagem de página o interior de quem o lê.
Márcia
Barbieri, com seus livros que fazem do sexo o cume da inadequação do humano (os
tarados travestidos de intelectuais não se atentam a isso), busca por meio de
metáforas com o ato sexual a libertação, criação do mito pós-destruição, possui
uma obra que deve ser sentida palavra por palavra, sensação por sensação. Experimente-os,
depois sentirá dificuldade em se contentar com arte-água-com-açúcar.
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