quinta-feira, 9 de junho de 2016

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Pequenas histórias 224.

A lâmina cega



A lâmina cega de aço corta os pelos fálicos do desejo. Colhe na palma da mão o liquido da vida. Bebe-se a angustia como se bebe a alegria de viver prisioneiro dos prazeres. Tudo não representa o nada absoluto sem concretização dos sonhos. Tudo pode ser o nada do tudo que se deseja e nada tem. Por isso, a lâmina cega de aço corta os pelos fálicos, como se cortasse a grama do jardim abandonado. Por isso o liquido da vida deve ser esparramado na seara das palavras para alimentar a cavidade do corpo. Tudo é uma questão de criatividade artística, tudo é uma questão de criatividade real, tudo é uma questão de criatividade sem preconceito.
As palavras ditas não justificam a realidade de cada um. O que justifica a realidade de cada um é vivê-la intensamente nas proporções do alcance intelectual. Tudo se justifica absurdamente. E tudo não passa de momentâneo prazer medroso que o homem possuiu em seu intimo. É preciso primeiro se libertar desse medo hipócrita, para depois enxergar a realidade, mesmo que seja uma realidade massificante, mesmo que seja uma realidade passiva do que se pretende sentir. Nada se obtêm na facilidade corriqueira de se ter o que se deseja. Tudo é meramente opróbrio carregando no dia-a-dia a culpa de não ser feliz. Quem é feliz que atire a primeira rosa e beije o cadafalso do inimigo regozijando-se com o próximo sem culpa e sem medo. A flecha de fogo foi lançada no espaço etéreo do corpo marcando na ferida, o desejo nosso de cada um.


Pastorelli


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