19 de outubro 2016
Hoje,
caminhando pela praia,
encontrei
pedras,
elas
eram claras,
de
verde mar para o branco.
Eu
não sei o número delas,
mas
eu as carreguei comigo.
Com
estas pedras, você não entenderia,
que
eu ainda não sei o número delas,
tenho
muito o de aprender.
Pedras
roladas,
posso
ouvi-las noites inteiras.
17 de outubro 2016
Estas
cartas narram, com a maior isenção possível, da geometria do símbolo. De
antemão é lembrado ao leitor que tudo aquilo que é descrito passa, ao menos,
por dois filtros naturais da subjetividade, tais quais àquele de quem escreve o
episódio tanto o outro de quem se aventura a sua descoberta. Posto isso,
imagina-se três segmentos de retas verticais. Um segmento de reta horizontal é
sobreposto à imagem anterior, na parte de baixo. Sobrepondo a esta imagem
formada, estão duas curvas ascendentes, com taxas de crescimento distintas.
Estas últimas duas curvas lembram os quadrantes inferiores direitos de duas
elipses. E elas partem próximo de uma origem imaginária, definida pelo primeiro
dos segmentos de retas verticais – aquele à esquerda – e o segmento de reta
horizontal inferior. Eu poderia desenhar o símbolo. Ainda assim, para o seu
próprio bem, seria melhor que você o apreendesse.
12 de outubro 2016
Chamam-me
de J. ou X., mas J. e X. não são nomes. Assertivas aparentemente ficcionais
como esta levam a reflexão acerca da questão que diz respeito à realidade ou à
irrealidade. Assim como a longa carta, redigida de próprio punho e destinada a
M., cujo conteúdo desconhecemos. Se M. não a encontrou, ou não a leu,
esvazia-lhe em absoluto a sua razão de existir. E, talvez, ela tenha caído em
mãos erradas, o que seria ainda pior. Neste caso, tanto eu, J., quanto ela, M.,
corremos risco de morte. Há verdades que jamais deveriam ser ditas (ou
escritas). Mas não posso me furtar de narrar a falta que um simples cigarro me
faz enquanto rabisco estas poucas linhas. (Que M. guarde sempre em sua memória
o que restar de doce, e não um improvável cinzeiro, repleto de cinzas).
14 de outubro 2016
Mesmo
tendo ficado sem contato com T., parece que nunca deixamos de nos falar, pensou
P. P. guardou-a num canto específico de suas lembranças, para vir buscá-la depois,
inteira, pele contra pele. T. era pequena, dessas mulheres compactas, com bunda
e seios apetitosos, facilmente eriçáveis pelos carinhos na nuca, beijos no
pescoço e uma mordidela no lobo da orelha. A pele macia de T., o tato da mão de
P. pegando firme na bunda de T., trazendo-a para junto de si, imprensando o seu
pinto bem apertado dentro da boceta dela. Grave, guarde na memória, até um
possível gemido de T., o seu gozo e um secreto beijo de entrega total. Guarde,
mas venha retirar depois. Sanduichar T. contra o colchão, na posição de frango
assado. Preenchê-la, separar suas carnes urge. Beijá-la a boca, úmida de vida.
19 de outubro 2016
O
caminho destas caminhadas é a paz.
O
sol, a iluminação interior.
E
agradecer ao universo.
Passo
a passo, a cada passo do que.
22 de outubro 2016
As
escrituras neste momento, ao pôr do sol, processam-se em múltiplas camadas: há
aquilo que realmente precisaria ser dito; mas há também uma trama ficcional que
corre à revelia. Agora o vento sopra, rente à areia, moldando e polindo a
realidade. É essa a artimanha de fluir através do tempo. O dia vai sendo
desconstruído em noite. Assim, desliga-se o sol da tomada. As estrelas vão se
acendendo len-ta-men-te, uma aqui, outra acolá, para que não seja possível
calcular o seu número. E quando a gente se dá conta, a noite devorou o dia. E o
seu número, aquele das estrelas no céu, permanece envolto em mistério. Este é o
momento sagrado em que o sol fecunda a noite.
19 de outubro 2016
O
deserto trás consigo dos seus descaminhos. O bólido vermelho de fogo através
das dunas, de motor a combustão de gasolina Volkswagen 1.6l. O motorista
Expedito, aquele mesmo das “causas impossíveis”, natural de Jericoacoara. Foi
próximo à pedra furada, retornando pela trilha, quando J. propôs: vamos
contornando a falésia, caminhando pela praia! A. não acreditava, era
praticamente inconcebível para A. que Expedito e o seu bólido vermelho
conseguissem mudar de frequência, de nível, vindo do alto da falésia,
resgatá-los em baixo, na praia. J. disse (e insistiu): Vamos por aqui, A., não
tem por que tomar a subida de volta, Expedito nos pegará aqui embaixo, se
formos contornando pela praia. Mas A. subiu. Seguiu o seu caminho.
18 de outubro 2016
É
recente a minha fascinação pela ideia de confinamento. E este é tão somente um
problema de escala, como o ajuste de uma frequência no rádio, que nos limita de
todas as outras possíveis programações musicais, ao mesmo tempo em que imprime
próprio ritmo. Milênios se passaram desde a constatação de Hermes Trismegistus,
segundo a qual assim como aquilo que está acima é aquilo que está abaixo. A
ideia das pedras celestes, que impõem o seu limite em direção àquilo que
denominamos de macrocosmo, tendo como contrapartida as partículas subatômicas,
de decaimento rápido, forjando um novo limite na direção do chamado microcosmo.
Observa-se, porém, no crepúsculo do segundo milênio D.C., o chamado século XX,
quando o esgotamento da reserva transcendente estava prestes a sucumbir ao
racionalismo em seu estado bruto, estas duas ideias: (1) O princípio da
incerteza de Heisenberg, segundo o qual, podemos determinar a posição de uma
partícula em prejuízo a noção de sua velocidade. (2) A teoria da relatividade
de Einstein, aplicável em grande escala, limitando a capacidade de observação
dos eventos à velocidade da luz, ao mesmo tempo em que propõe noções
interessantíssimas, como a curvatura do espaço-tempo. São, pois, estas duas
ideias, aparentemente sufocantes, respectivamente, no âmbito dos eventos no
microcosmo e no macrocosmo (à medida que nos impõem limites), as mesmas a
impulsionarem a exploração das esferas transcendentes. Porque, ora, se o
princípio de Heisenberg é limitante sob o aspecto observacional das partículas
subatômicas, ele permite o vislumbre de uma nova percepção sobre partículas de
grande energia e decaimento rápido, capazes de transmudar a matéria de um estado
a outro, pela troca simultânea de energia. Noutro extremo, está a teoria da
relatividade de Einstein, que ao impor um limite observacional dos eventos à
velocidade da luz, fez muito mais ao descortinar um novo cenário do céu, onde
as trocas em grande escala se dão pela extinção de estrelas em buracos negros,
arrastando quantidades absurdas de energia e matéria através de um remoinho,
simetricamente projetado para o fluxo dessa matéria e dessa energia em uma
posição remota, pela gestação de uma supernova. Isso tudo, pelo simples
problema de escala da percepção humana, pode nos parecer muito distante
(extrínseco), quando, em verdade, é de natureza intrínseca aos processos do
quotidiano, à vida. E, se pensa que estou mentindo, a forjar uma estória
apenas, vale lembrar-se do ciclo de alimentação e eliminação dos dejetos, aos
quais cada criatura está sujeita. Também e, sobretudo, ao ritmo da inspiração e
da expiração do organismo humano. Ritmo, pulso, dança, movimento atrelam-nos à
essência dos seres animados. Esta frequência, sintonia fina, é o que leva ao
céu ou ao inferno de si para com o outro, do universo para consigo. Reside aí o
cerne para a ligação (conexão) da criatura na natureza.
20 de outubro 2016
A
décima sexta e a décima sétima pedras foram encontradas muito distantes ao
longo da praia. J. ficou contente por ter ido ao encontro delas. Quando a onda
do mar recuava, em vazante sobre a décima sexta pedra, a água espirrava para o
alto em spray, refletindo a luz do sol. A pedra era rolada, branca, rosa e
trazia alguns riscos e trincas marrons, isso incrementava ainda mais o efeito.
É óbvio que aquelas inscrições na pedra traziam, nada mais, nada menos, que a
localização da décima sétima pedra, em “tão tão distante”. J. foi buscá-la, um
processo que era quase o inverso. Enquanto isso, A. era muito braço, muita
perna, muito cigarro, muita cerveja e soluço. A. não compreendia que era fase
de libertar-se, não de reter para si.
21 de outubro 2016
A
areia, correndo com o vento, sobre a superfície das dunas, parece criar um
tecido movediço de ar imiscuído com o pó de pedra, o então denominado estado
híbrido sólido-gasoso. A forma desaparece lentamente através desse limiar do
que foi pedra para dar o seu lugar aquilo que é oxigênio, nitrogênio, gás
carbônico. O estado inalterado não passa de utopia da mente nas caminhadas do
que.
16 de outubro 2016
Você
é formada pelo Sol
cada
poro seu uma Estrela
o
seu corpo é Éter que hei de Sorver
(para
a nossa Transcendência)
em
fusão da minha Carne com a tua
não
há Arrebatamento maior
quando
duas Criaturas se dispõem
a
Foder.
18 de outubro 2016
Viajando
com A. pelos sertões, me apercebi que A. era A. e, ao mesmo tempo, já não era
A. Eu, cá do meu lado, continuava sendo eu mesmo, J., o bom e velho J., se é
que assim poderia ser dito. O sol fazia-me muito bem, o cérebro pensava bem,
intuía, iluminado pelo sol. A. distanciava-se de A. e de J. à medida que
submergia em seu mundo interior. Era como se A. consumisse a sua própria
energia, um buraco negro mental que arrastava consigo toda a negatividade do mundo.
As “coincidências” ruins aconteciam. Eu tentava ajudar A., mas A. estava
mudando de espírito. Era como o processo de um buraco negro drenando-se para
gerar uma supernova. Eu tentava apenas flutuar ao entorno, sem me deixar
drenar. A., eu vou à Marte quando eu voltar.
12 de outubro 2016
Levo
uma cartinha escrita a mão, com estes malditos alfarrábios, e dois vasos de
plantas minúsculas, super delicadas, com as quais presentearei M. na festa
antecipada do seu aniversário. Ela nasceu no dia 16, o mesmo dia de minha avó
D. Não esquecer isso. Nem de cada pessoa por detrás de cada signo.
17 de outubro 2016
“Uma
mão direita
deu
a mão a esquerda
um
olho esquerdo
olhou
pro olho direito
uma
perna direita
trançou
outra perna esquerda
do
útero nasceram flores
ela
fez as pazes
com
a parte dela
que
era ela
a
mãe, a irmã
o
feminino sagrado.”
A.
partiu sem deixar vestígios. Nunca saberemos ao certo se foi A. quem deixou J.
ou se foi J. quem deixou A. Mais um desses mistérios em que cada um dos
sujeitos carrega consigo parte da razão, mas a nenhum deles é facultada a visão
ulterior da verdade. São como as linhas a serem preenchidas por signos, os
cacos de azulejos que virão a compor um novo mosaico. O que parte de mim é o desejo
de paz interior e prosperidade para A. e para J. – onde é que eles estejam!
12 de outubro 2016
Existiu
um peixe elétrico. Um peixe elétrico individual dentre a espécie de todos os
peixes elétricos como ele. Este peixe elétrico já morreu. Mas antes, ele
habitou o mar. Vivenciou a sua existência naquele ambiente líquido e marinho.
Conheceu algas amigas e a luz do sol. Assombrou-se com correntes de água
salobra supergeladas. A sua vida pode afetar em nada as leis da natureza e a
imensidão do universo. Mas ninguém pode tirar dele, deste singelo e finado
peixe elétrico, o fato inquestionável dele haver existido... um dia.
16 de outubro 2016
N.
sentia-se preenchida na piscina do hotel. A simples imaginação a deixava
excitada, seus seios se eriçavam, a pele das costas, a parte anterior dos
braços era puro arrepio, mas o melhor e o mais intenso vinha das contrações de
sua xoxota. Trinta e um graus, o vento refrescante da beira mar, uma caipirinha
de vodca com morango. A pele ardendo ao sol e depois um mergulho súbito, de
corpo inteiro, na piscina. Muita liberdade e hormônios demais para aquele corpo
em tenra idade. Era pura a ebulição.
20 de outubro 2016
A
forma da folha de um coqueiro em planta, vista através de sua sombra na areia,
com o sol a pino, lembra a coluna vertebral, com as suas respectivas
ramificações nervosas periféricas, é uma analogia para a medicina (e deve ser
também o caminho de mínima energia). No deserto, pouco é muito.
18 de outubro 2016
O
deserto é de múltiplas camadas verdes, o sol queima a pele, o maior dos órgãos
do ser humano. Isso seria comum de se ler escrito por aí, mas naturalmente
incomum por estar sendo lido agora. Reflita sobre isso. O tempo estancado,
extraído do contexto, trata disso apenas: a ideia da subjetividade,
desdobramento; num análogo ao sol, queimadura; num análogo ao deserto, areia;
num análogo às distâncias, anos-luz.
21 de outubro 2016
Pego
B. com as mãos firmes em seus quadris. Trago de encontro, com violência, em
direção ao meu pinto. Este, por sua vez, eu cravo ele todo e profundo dentro da
xota molhada de B. Meu nome é J., mas J. não é nome. Meu nome é X., mas X. não
é nome. Meu nome preenche a xota de B., que se contrai de um gozo demorado.
Aumento a frequência das ondas de choque. Resta o farfalhar de corpos se
batendo na penumbra, entremeado aos gemidos de B. Ah... ainda posso ouvi-los.
Estado de ser delirante. Estado de que. A cabeça e a cabeleira de B. afundadas
no travesseiro, comigo a imprensá-la com o meu quadril e o meu pinto. Todo ele
a insuflá-la de tesão. Égua sendo fodida por trás, a posição predileta de B.
Ontem você estava aqui, hoje já não está, B. Parece que foi ontem que botei
reparo no seu corpo de felina, refestelada, ao vento e ao sol. Nem Bob Marley
entenderia ou saberia descrever nos versos de seus reggaes. Nada posso fazer
senão creditar ao universo, creditar ao criador o milagre da vida. Acreditar
que mesmo o que termina começa de novo nas caminhadas do que.
Seja o primeiro a comentar:
Postar um comentário