Truman
Burbank,
Não
sei por onde tem andado, desde que deixou Seaheaven, já faz muitos anos da sua
caminhada pelo horizonte, abriu um buraco no céu e partiu. Pensei que você
faria como Roy, o replicante que invadiu a casa de seu criador para
assassiná-lo. Pergunto a mim mesmo se encontrou Sylvia e a perdeu para a ilusão
que tinha dela. Sob nosso controle as paixões são sempre melhores.
Penso
muito em quando começou a desconfiar da grande ilusão que lhe cercava, apenas
quando agiu de maneira não premeditada, a farsa começou a ser dissipada.
Estamos tão robotizados, os mesmos passos até carros ou ônibus, metrôs,
calçadas um mapa conhecido pelo olhar das cabeças baixas que vão vasculhando o
chão ao longo do caminho. A sua vontade de chegar a Fiji, o desejo de movimento
rumo ao desconhecido, de quem quer sentir nos lábios o gosto da experiência. Os
programas policiais que passam na tevê são sentinelas do medo, muitos aqui no
Brasil, vivem trancados, se escondendo do que há lá fora. Você deve achar isso
hilário, não?
Engraçado,
você fugiu atrás de um pouco de privacidade, aqui, há tanta gente vendendo o
secreto-banal da vida, alimentos, fake
plastic smiles, vídeos íntimos, tudo isso tem sido compartilhado, por
humanos fragmentados. Você deve está em algum canto com o livro do Thoreau, eu
acho.
Quando
olho da varanda ou pela janela do ônibus, nunca sei se a tristeza que enxergo
nos rostos dos meus semelhantes, está nos meus olhos ou se é real. A vida virou
um produto embrulhado em pacote da alegria, mas no interior da embalagem há só
vazio.
Truman,
você é feliz aqui fora?
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