quarta-feira, 30 de novembro de 2016

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UMA CARTA PARA TRUMAN BURBANK


Truman Burbank,
Não sei por onde tem andado, desde que deixou Seaheaven, já faz muitos anos da sua caminhada pelo horizonte, abriu um buraco no céu e partiu. Pensei que você faria como Roy, o replicante que invadiu a casa de seu criador para assassiná-lo. Pergunto a mim mesmo se encontrou Sylvia e a perdeu para a ilusão que tinha dela. Sob nosso controle as paixões são sempre melhores.
Penso muito em quando começou a desconfiar da grande ilusão que lhe cercava, apenas quando agiu de maneira não premeditada, a farsa começou a ser dissipada. Estamos tão robotizados, os mesmos passos até carros ou ônibus, metrôs, calçadas um mapa conhecido pelo olhar das cabeças baixas que vão vasculhando o chão ao longo do caminho. A sua vontade de chegar a Fiji, o desejo de movimento rumo ao desconhecido, de quem quer sentir nos lábios o gosto da experiência. Os programas policiais que passam na tevê são sentinelas do medo, muitos aqui no Brasil, vivem trancados, se escondendo do que há lá fora. Você deve achar isso hilário, não?
Engraçado, você fugiu atrás de um pouco de privacidade, aqui, há tanta gente vendendo o secreto-banal da vida, alimentos, fake plastic smiles, vídeos íntimos, tudo isso tem sido compartilhado, por humanos fragmentados. Você deve está em algum canto com o livro do Thoreau, eu acho.
Quando olho da varanda ou pela janela do ônibus, nunca sei se a tristeza que enxergo nos rostos dos meus semelhantes, está nos meus olhos ou se é real. A vida virou um produto embrulhado em pacote da alegria, mas no interior da embalagem há só vazio.
Truman, você é feliz aqui fora?











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