Sérgio Aral é paulistano, nasceu em
1968, ele é autor do livro de contos Até
a esquina e meia-volta
(VirtualBooks, 2010), também participou da coletânea de contos Retalhos
(Andross, 2007), o autor acaba de estrear na poesia com o livro Sobre Essa Esfera Suspensa (Penalux), este foi o mote deste papo.
Sérgio, há uma avalanche de autores
precoces, alguns publicando com menos de 20 anos, comparado com muitos deles,
podemos dizer que você estreou tardiamente, na literatura. Quais ilusões
são/foram evitadas por ti em relação ao universo literário?
Acho
bom ter sim ilusões em relação à literatura, mas manter os pés no chão é importante
para poder enxergar com nitidez a realidade e evitar alguns desenganos. Cada um
deve estabelecer seu objetivo. A proposta da Editora Penalux, com edição muito
bem trabalhada e com tiragem adequada para o lançamento do livro e divulgação
inicial, veio ao encontro daquilo que eu pretendia. Fiquei cinco anos sem
escrever e, por isso, minha preocupação agora é colocar a literatura no
bate-bate do meu dia a dia.
No primeiro contato com Sobre Essa Esfera Suspensa, um dos
pontos que saltam aos olhos, são as epígrafes que usam versos de autores
contemporâneos (Nathan Sousa, Valério Oliveira). Como a leitura dos poetas do
nosso tempo potencializam a sua escrita?
Apesar
da inegável qualidade literária com a qual esses autores nos presenteiam, o uso
das epígrafes foi mesmo por uma questão de oportunidade. Estava lendo seus
livros no período de criação ou revisão dos poemas. Se tivesse lendo Drummond,
João Cabral ou Miguel Torga, talvez extraísse algo deles também.
Poesia
mansa/ azul/ boa vizinhança/ cerveja gelada/ melhores amigos... por meio desses versos do poema Suposição, entre outros, podemos dizer
que a poesia está à espreita, esperando para dar o bote e florescer nas frestas do cotidiano?
Acho
que sim. A maleabilidade da poesia não está só em sua forma. Na essência, ela
também pode acariciar, espicaçar, surpreender. Sendo o cotidiano uma vertente
torrencial para todas as possibilidades, como não aproveitar a chance para beber
de sua fonte?
Nos poemas Diluído e Tudo há uma
perfeita descrição daquilo que Clarice Lispector chamou de instante-já. A
usurpação da noção de tempo é estética ou mística em sua poética?
Sinto-me
feliz por essa alusão. Confesso que não tive essa preocupação na elaboração
desses textos. Mas em Tudo (ou em
quase todos) há mesmo uma inclinação mística.
As
lacunas são retocadas/ com metodologia antiga. Sérgio, uma das características dos
seus poemas é certo estilo lacônico. Como teve acesso a esta metodologia?
No
início, meu propósito era escrever poemas de versos curtos, com duas ou três
palavras, como por exemplo, se vê nos poemas Nadar no vazio e Magnética.
Já tinha produzido vários poemas quando tive contato com o livro de Susanna
Busato, Corpos em cena. Acho que este
livro suscitou-me algo que contribuiu para continuar por esse caminho.
No poema Havia o tédio parece haver
uma aproximação entre a criação do planeta e o fazer poético. Somente no tédio
reside o poder de criação?
Ótima
pergunta, que bem poderia ser um verso de abertura ou um desfecho de poema.
Quando uma pessoa se sente entediada, há margem para reação porque o tédio é um
quartinho de despejo, onde se deposita coisas que, naquele momento, não tem serventia.
Se ao seu redor não existe nada que se possa aproveitar, você está num deserto.
Eis o momento!
A divisão dos quatro capítulos do
livro (Os ventos, Agulha vacilante, Rumos colaterais e Possível chegada), assim
como alguns poemas, faz referência ao itinerário do humano dentro na Terra,
conforme destacou na orelha Edmar Monteiro Filho, do nascimento à indiferença
rumo à morte, a poesia é só uma distração no meio do caminho?
Já
ouvi por aí que a poesia pode ser tudo: derrocada e libertação. Penso, então,
que se tiver de ser apenas uma distração, que seja. Vejo pelo lado bom, pois alguém,
de alguma forma, estará se envolvendo com a poesia. E lembrar do título do
livro do Leminski, Distraídos venceremos,
agrada ainda mais.
Existe possibilidade de fugir da ilusão que nos move a acreditar que tudo
então será possível?
Acho
que não, porque parece mais confortável ter uma saída de emergência sempre à
vista, uma possibilidade de recomeço a cada frustração, do que não haver
expectativa alguma.
Por que ler Sérgio Aral?
Apesar
de conseguir despertar de um sono e retomar a aventura Sobre essa esfera suspensa, estou colhendo aos poucos os motivos
para essa leitura. Certeza, pelo menos para mim, que a atenção dispensada pelo
escritor Fernando Rocha já é um bom motivo.
Contato: sergioaral17@gmail.com
No facebook: /sergioaral.miranda
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