quarta-feira, 31 de maio de 2017

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MENINAS


Às vezes, me impressiono com as meninas, talvez porque carrego a lembrança desse período da vida, em que tudo é possível, maravilhoso e por achar que a vida é feita de coisas simples. Muitas situações e posturas dos adultos são incompreensíveis quando se é apenas uma menina que vive intensamente suas fantasias e verdades, como forma de expressar a sua existência. A menina Júlia Du Bois, com sua imaginação, navegou nos mares da história “A Menina e o Mar”, onde descreve “Uma menina nunca havia visto o mar. Quando o viu ficou impressionada...”; e sua irmã Luísa incorporou a espontaneidade ao escrever a história “A Fadinha e a Menina”.
As meninas são desveladas em cada passo no mundo afetivo, que se mistura com as reflexões do escritor Manuel Bandeira na obra “As Meninas e o Poeta”, caracterizada pela poesia refinada e delicada, plena de vida e de cor.
As meninas têm os sentidos latentes e manifestam-se de modo cristalino e inocente. Elas não têm (quase) nenhuma certeza, mas tudo se torna absolutamente relativo quando se instalam em todos os sentidos e por todos os sentidos, revelando o tempo das descobertas; dos erros e acertos; do deslumbramento dos sentimentos e do encantamento pela vida. Como demonstra Laura Esteves, “A Menina e a Lição // Mãe o que é medo? / Medo é: / pio no mato / porta rangendo /... Medo, minha criança, é: / Subserviência /bajulação desconfiança / riso sem vontade mentira sem precisão. //... tome ciência, / medo todo mundo tem: / humano / instinto de sobrevivência...”. Ana Maria Machado reflete, no livro “A Menina bonita de Laço de Fita”, onde conta uma história sobre a beleza negra, sem espaço para o preconceito.
As meninas são “caixinhas de surpresas”, voltadas aos seus pensamentos e em busca da realização de seus sonhos; quando brincam de bonecas/casinha, elas reforçam a necessidade de olhar para a vida e, ao mesmo tempo, querem alcançar o mundo de uma só vez. Como retrata Roseana Murray, “A boneca e a menina / Boneca de perna fina, não faz manha senão apanha! / Come tudo para não levar cascudo! / Não fala tanto, que te boto no canto! /... E a boneca de perna fina / em tudo obedece à menina”.
As meninas são especiais, principalmente, quando me refiro as Alices: Brueggemann e Soares, duas personalidades que se destacaram a partir dos anos cinquenta no cenário da pintura e do desenho. Lado a lado, elas impuseram emoção em suas telas e, com força criadora, espalharam a esperança, a alegria e a inspiração em cores. Alice Soares encaminhou-se para o desenho em crayon e pastéis e seu tema foi sempre a “criança universal”. Alice Brueggmenn dedicou-se à pintura a óleo, com figuras humanas, paisagens e naturezas mortas. Ambas enfatizam o sentimento que desperta em nós a admiração pelas artes plásticas.
Voltando as Alices e outras meninas: uma no livro Ela é Alice, com fotos que desvelam Alice Liddell, a musa inspiradora do livro Alice no País das Maravilhas, considerado obra prima na literatura mundial. Outra Alice encontro no ensaio de Gilberto Cunha, Alice no país dos cientistas.
Todas as meninas são incentivos para as nossas vidas, por nos colocarem diante da fantasia versus realidade e espalharem palavras coloridas no cotidiano. Segundo Almedoro Vencato, “... belas e graciosas meninas,/desabrochando para a vida, / são elas, tão meigas...// Na vivência simples de suas juventudes, / mil sonhos resplandecentes e imaginosos, / despertam a curiosidade, moldando suas virtudes, / gravadas nas páginas ingênuas de seus diários...”.

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