sábado, 10 de fevereiro de 2018

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BREVÊ - JANDIRA ZANCHI

Ilustração: Gustavo Boggia


gostaria de dizer que ignoro os fatos
- sem que consinta sabê-los -
enquanto  passam  sobre mim o mal e o mártir
já que na janela do pensamento
se esvaí o brevê do breve e  do erro e do algoz

enfim, se me saísse melhor das bravatas e ânsias de superação
vigiaria o cetro do casulo e do altar
ou me redimiria na luta e na busca ou no fim

mas, permaneço, e não esqueço ou minto, embora, ante as imagens
- graves,  sempre graves – das necessidades e ausências
perceba os primeiros esgares da fuga falsidade
e tenha pressentido olhares e nódoas
por singulares bem estares

ao longe, o bom, o mistério, o ignóbil, o fim, o precário, o injustiçado
 -esse, sempre esse, o acusador, a função realidade -
que sereno infinito no desespero de ser e não poder
verificar as vírgulas e maiúsculas de todos nós
apontar toda tentativa milagre
brevidade do existir

de cada momento jeito sonho eternidade.

Jandira Zanchi (Luas de maçã,inédito)

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