sábado, 28 de abril de 2018

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Sobre a sua barriga




Quieto, não digo nada.
É da minha natureza observar.
Eu tenho presas e garras afiadas. Eu uso bigodes. Eu tenho um rabo como aquele do demônio.
Mas eu não sou.
Quieto, eu me banho ao sol da manhã.
À noite, sobre o muro, eu observo as estrelas.
Em cada uma delas, o brilho de uma vida.
Vejo na lua o reflexo do sol.
Quieto, eu observo a natureza.
Caminho por entre os arbustos. Eu sinto a brisa.
E o que eu vejo é reflexo de mim mesmo.
Se você mora no meio do quarteirão, eu estarei, simultaneamente, refestelado em ambas as esquinas.
Aguardando, ansioso, que você me atropele com o seu carro, enquanto dirige rápido, desapercebida.
Enquanto isso eu me banho, lambendo os meus pelos.
É que eu preciso morrer sete vezes para cumprir o meu carma.
E me tornar um bicho melhor.
Mas se você me vê, como eu realmente sou, e me dá carinho; irei retribuir em dobro.
Caminharei com as minhas patas macias sobre a sua barriga.



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