sábado, 18 de agosto de 2018

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TOC EM MINHA VIDA





Espera aí! Você tá vendo? Tá percebendo a amplidão do chão? A liberdade que tá no chão, neste grande plano?!”

Sou somente eu, querendo atravessar o pátio para chegar à aula...  “Olha, olha o chão! Tem simetria nestas manchas imitando mármores... E os quadrantes?”, senhor Deus, não posso me paralisar aqui! Estou atrasado para a prova de Linguística!  Deixe-me andar, seguir... “Eles são retângulos, são quantos? Daqui até o fim... Conta saltado, fileira, diagonal? Não, diagonal não conta!” Vai começar... “Dez passos em diagonal, perceba o brilho, tem um segmento de reta de luz cortando o retângulo... Já não são só as manchas simuladas de mármore, são de outra classificação! Anda exatamente pelos vértices de todos os retângulos, grande diagonal, que servirá para todos!” Eu nunca consigo controlar isso! Meu cérebro emana descargas eletroquímicas de quê?! É alguma parte do cérebro fazendo isso, eu sei... Não me olhem assim! Não sou louco, porra! Meus ossos, as carnes por cima dos ossos, o sangue nada obedece este 'eu' no meio do caos de minha cabeça... Ninguém chegará perto de mim? Me tirará daqui? A glote, a língua, as cordas não ajudam com a voz, não dá para gritar, ninguém percebe?... Devo estar estranho... “Vai pelos vértices... 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7... 10, olhos também até 10! Pisque até 10 para confirmar os passos, expire... Mais 10, até o fim da diagonal.” Estão olhando lá de cima! Ouço risos... “1, 2, 3, 4...”. São 8h15 min, sempre às oito e quinze acaba a primeira aula da turma de Pedagogia, tem mais gente lá em cima... Há mais barulho de risos... Ninguém virá aqui? “Luz do céu está no chão... Estragou o padrão! As classificações serão retângulos de mármore simulado sem luz natural pouca mancha; retângulos de mármore simulado sem luz natural muita mancha; retângulos de mármore simulado e manchas do céu e do jardim refletidos pouca mancha; retângulos...” Nossa, tô suado já! Tô cansado... Mas não dá pra parar! A prova... Não sei se ainda... “1, 2, 3, 4, 5 (…) passos; pisque 1, 2, 3, 4, 5... Um retângulo de mármore simulado...”. E se esta organização ajudar o mundo de alguma forma? Se eu depois mostrar que nada tá aleatório? Que tudo serve para aprender algo?! As pedagogas deviam aprender a contar o mundo, percebê-lo! Não serem tolas! São tolas! Elas não dizem nada, “... manchas do céu e jardim refletidos muita mancha, expire. 1, 2...”, não precisam saber muito, eu acho... As que sabem fazem uma diferença danada! Mas são poucas... Tá ruim, tá tão rude! Tá fraco... O cenário pedagógico tá fraco, tenho umas 10 aulas, sei o que tô dizendo, melhor, pensando... Tô fraco também... Opa!

- Oh, seu Zeca, que bom que chegou aqui! Pensei que ninguém ia chegar...
- Calma, Luiz, só me avisaram agora! Deixei a portaria e vim! A coordenação já chamou o S.A.M.U.



Texto criado por Otacília Andrea Sales, a quarta postagem do projeto que tem com mote a leitura de uma fotografia e a narrativa que esta pode suscitar.  


2 comentários

Rosineide

Muito envolvente, consegui imaginar como um filme em minha mente.Parabéns pelo texto.

Otacilia Andrea Sales

Obrigada, Rosineide!