Espera aí! Você tá vendo? Tá percebendo a amplidão do
chão? A liberdade que tá no chão, neste grande plano?!”
Sou somente eu, querendo atravessar o pátio para chegar à
aula... “Olha, olha o chão! Tem simetria
nestas manchas imitando mármores... E os quadrantes?”, senhor Deus, não posso
me paralisar aqui! Estou atrasado para a prova de Linguística! Deixe-me andar, seguir... “Eles são
retângulos, são quantos? Daqui até o fim... Conta saltado, fileira, diagonal?
Não, diagonal não conta!” Vai começar... “Dez passos em diagonal, perceba o
brilho, tem um segmento de reta de luz cortando o retângulo... Já não são só as
manchas simuladas de mármore, são de outra classificação! Anda exatamente pelos
vértices de todos os retângulos, grande diagonal, que servirá para todos!” Eu
nunca consigo controlar isso! Meu cérebro emana descargas eletroquímicas de
quê?! É alguma parte do cérebro fazendo isso, eu sei... Não me olhem assim! Não
sou louco, porra! Meus ossos, as carnes por cima dos ossos, o sangue nada
obedece este 'eu' no meio do caos de minha cabeça... Ninguém chegará perto de
mim? Me tirará daqui? A glote, a língua, as cordas não ajudam com a voz, não dá
para gritar, ninguém percebe?... Devo estar estranho... “Vai pelos vértices...
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7... 10, olhos também até 10! Pisque até 10 para confirmar os
passos, expire... Mais 10, até o fim da diagonal.” Estão olhando lá de cima!
Ouço risos... “1, 2, 3, 4...”. São 8h15 min, sempre às oito e quinze acaba a
primeira aula da turma de Pedagogia, tem mais gente lá em cima... Há mais
barulho de risos... Ninguém virá aqui? “Luz do céu está no chão... Estragou o
padrão! As classificações serão retângulos de mármore simulado sem luz natural
pouca mancha; retângulos de mármore simulado sem luz natural muita mancha;
retângulos de mármore simulado e manchas do céu e do jardim refletidos pouca
mancha; retângulos...” Nossa, tô suado já! Tô cansado... Mas não dá pra parar!
A prova... Não sei se ainda... “1, 2, 3, 4, 5 (…) passos; pisque 1, 2, 3, 4,
5... Um retângulo de mármore simulado...”. E se esta organização ajudar o mundo
de alguma forma? Se eu depois mostrar que nada tá aleatório? Que tudo serve
para aprender algo?! As pedagogas deviam aprender a contar o mundo, percebê-lo!
Não serem tolas! São tolas! Elas não dizem nada, “... manchas do céu e jardim
refletidos muita mancha, expire. 1, 2...”, não precisam saber muito, eu acho...
As que sabem fazem uma diferença danada! Mas são poucas... Tá ruim, tá tão
rude! Tá fraco... O cenário pedagógico tá fraco, tenho umas 10 aulas, sei o que
tô dizendo, melhor, pensando... Tô fraco também... Opa!
- Oh, seu Zeca, que bom que chegou aqui! Pensei que
ninguém ia chegar...
- Calma, Luiz, só me avisaram agora! Deixei a portaria e
vim! A coordenação já chamou o S.A.M.U.
Texto criado por Otacília Andrea Sales, a quarta
postagem do projeto que tem com mote a leitura de uma fotografia e a narrativa que esta pode suscitar.
2 comentários
Muito envolvente, consegui imaginar como um filme em minha mente.Parabéns pelo texto.
Obrigada, Rosineide!
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