De fato, as palavras se
apresentam mais íntimas do que parecem, quando as leio. Fernando Pessoa disse: “De nada serve o simples ritmo das palavras
se não contém ideias”.
Acredito
que ler Carlos Pessoa Rosa é sair da rotina; como olhar o mar e o amor dentro dos
seus significados. Ele, com a sua poesia, revela palavras com estímulo e força,
que resistem à linha do tempo e às privações pelas quais a literatura passa,
como em, “Composição // na vergadura do
poema / o lastro // na textura do lastro / o poema // no poema vergadura e
textura / se alastram”.
Tantas são as palavras
de acúmulo de sentimentos que dão razão ao autor para, livremente e sem medo,
transformá-las em asas: “o prático / vê
no voo da borboleta / uma borboleta em voo // o filósofo / vê no voo da
borboleta / a razão do Ser // o cientista / vê no voo da borboleta / as matizes
matemáticas do voo // o poeta / vê no voo da borboleta / a possibilidade de dar
asas ao poema”.
Palavras são símbolos
que traçam a face oculta de quem escreve; nela, o escritor Pessoa Rosa convive
em harmonia e tem a capacidade de valorizá-la no senti-la e, talvez, na ilusão
de não resistir; sua criação cede aos impulsos, satisfazendo a inquietação, como
em “grito”, “caminho nos campos de Van
Gogh / assento-me nos sonhos de Kurosawa / aceito as incertezas, dúvidas e
medos / grito ao mundo a arte do poema / e o retorno é um sussurro da morte”.
Então, percebo que na
sua prosa e poesia há palavras de vários significados, tratadas pelo escritor
de forma diferente, peculiar, em guardar a legitimidade, que confere a mais
emocionante conquista da inspiração, em ideias carregadas de vida, com talento
especial para segurar o leitor, “palavras
/ sobrevivem em bando / trilham / caminhos de terra estranha / e vermelha / à
procura da fonte criadora //: encontram / poemas secos & poetas inférteis /
porque assim são os dias”.
Digo que a escrita de
Carlos Pessoa são palavras que nascem à sombra das árvores e, sem ressecar,
quando “maduras” absorvem seus ritmos. Ganham voz ao determinar sua
característica no representar mudanças e transformações como as que sonho ao
lê-las com luzes que nelas encontro, sendo a principal preocupação do autor
atingir os sentimentos e a reflexão do leitor, “farfalham / palavras nos varais / experimento / um frescor frio nos
lábios / o vento agita poemas em meus dentes”.
Suas
palavras dão volta ao mundo da literatura; revelam a mão do escritor e o
movimento das palavras com cores e detalhes, dando significado à poesia, “vergado o poema / restam palavras caídas /
na calçada // vergado o poema / resta sua sombra / na calçada / sem vento / o
silêncio devolve ao poeta o deserto / das ruas”.
Encontro em Carlos
Pessoa Rosa o valor absoluto e profundo que repousa na raiz da cultura e eleva
meus dias. Ao me enredar em sua prosa e poesia, passo por mudanças na vida, em
nuances, na direção sensorial e cativante que reflete o escritor: “dizer / que minha cabeça está vazia de
ideias / é perceber / que esse vazio é uma baita negação de valor // dizer /
que o poema poetiza o vazio / é concluir que o vazio existe e não existe / é um
modo poético / de poetizar a não-presença”.
3 comentários
Muito obrigado pela gentileza, por compartilhar o sensível que só as palavras permitem.
Grande!
"...sua criação cede aos impulsos..."
Sensível leitura e análise penetrante.
À altura do poeta.
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