sexta-feira, 9 de novembro de 2018

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Pequenas histórias 300


Virou as costas. Com a mão em concha tentou acender o cigarro. Mas o vento forte apagou duas vezes o fósforo.
- Maldição – disse entre dentes num tom baixo que só ela ouviu.

Acendeu outro palito. Nisso surgiu entre seus dedos outro fósforo aceso.

- Obrigada – agradeceu tímida.

- De nada – responde uma voz grave.

Ergueu os olhos, deparou com um rosto másculo, olhos suaves de sobrancelhas grossas, nariz reto proeminente, lábios finos vermelhos, boca sorridente mostrando dentes brancos.

Percebeu que ainda segurava sua mão. Sorriu tímida. Ele retribui o sorriso, mas não largou a sua mão.

Foi então que caiu em si. No entanto não precisou falar, não precisou dizer mais nada. Deixou-se segurar por aquela mão firme ao mesmo tempo carinhosa e suave por mais de sessenta anos.

E todo o dia, no mesmo horário, acendia um cigarro relembrando aquele momento mágico de sua vida, até o dia em que o cigarro ficou queimando esquecido entre os dedos...





pastorelli

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