Quem não tem a lembrança da morte
entre lágrimas, como encontra o que sentimos arder como lâmina e fogo?
Falar da morte é driblar o
sentimento. Tê-la por perto é ouvir o grito entre o silêncio e o medo, como voz
do penhasco onde é marcado o encontro amargo, que se reflete no espelho
corroído pela maresia.
Hoje, o som me desperta a dor da
saudade junto ao relógio, que não mais divide o meu tempo e nem guarda o meu
silêncio, como em Sueli Gehlen Frosi, “Debato-me,
sofro. / Procuro e não te encontro. / Teu travesseiro é só vazio. / Lembro-me
então que foste embora...”.
O encontro com a morte revela o
mistério que se configura na força do vento, que soa forçando as portas
fechadas. Temo que possa mexer, mais, com a minha vida e sacudir o vício de ter
você ao meu lado. Mal consigo lidar com o amargo da morte e, ainda, penso no
nosso amor sempre imenso, que se distanciou e rompeu o meu gesto, deixando-me com
o peito cerrado. Nas palavras de Sueli Gehlen Frosi, “... Quero-te de volta, / Exijo sentir a respiração mansa, / Do amor
que escolhi, há tanto / Para fazer parte de mim...”
Recolho conchas na praia para confortar
o meu pensar; estou sempre repensando a solidão como as duras penas no sopro do
sentimento conflagrado. Além da saudade, sinto que as comportas da noite se
abrem para as verdades. Então, absorvo o limite da hora da despedida e me mantenho
densa no agora. Com a alma fria e os pés paralisados faço da renúncia a minha
procura, deslocada da sua imagem, e me entrego por inteiro à melancolia.
Surpreendo-me rememorando
situações, e quero mais; quero a sua presença de volta ao meu viver; quero o
voo do pássaro no final da tarde, com você; mais, quero pousar a cabeça em seu
ombro. Tudo passou, transcorreu e você morreu, deixando o gosto amargo na minha
boca; com o coração alvejado, perdida entre lembranças ao interiorizar o seu
corpo, seu olhar; sua imagem na tentativa de permanecer ao seu lado. Iludida,
canto com voz rouca a nossa música e sobrevivo à sua ausência com o amargor do
encontro inexistente. Sueli Gehlen Frosi demonstra, “... Lembro-me então da morte, da dor, das velas, / Levando devagar
para muito longe / O quem mais amo, tu! / Choro gritos, desfaço-me em lágrimas,
/ Soluços sufocam-me a garganta, / Para então, em agonia, / Dar-me conta de que
sonhei, / De que estás aqui, como sempre, / Fazendo-me companhia...”
Seja o primeiro a comentar:
Postar um comentário