sexta-feira, 13 de setembro de 2019

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ENCONTRO AMARGO



          

               Quem não tem a lembrança da morte entre lágrimas, como encontra o que sentimos arder como lâmina e fogo?
               Falar da morte é driblar o sentimento. Tê-la por perto é ouvir o grito entre o silêncio e o medo, como voz do penhasco onde é marcado o encontro amargo, que se reflete no espelho corroído pela maresia.
               Hoje, o som me desperta a dor da saudade junto ao relógio, que não mais divide o meu tempo e nem guarda o meu silêncio, como em Sueli Gehlen Frosi, “Debato-me, sofro. / Procuro e não te encontro. / Teu travesseiro é só vazio. / Lembro-me então que foste embora...”.
               O encontro com a morte revela o mistério que se configura na força do vento, que soa forçando as portas fechadas. Temo que possa mexer, mais, com a minha vida e sacudir o vício de ter você ao meu lado. Mal consigo lidar com o amargo da morte e, ainda, penso no nosso amor sempre imenso, que se distanciou e rompeu o meu gesto, deixando-me com o peito cerrado. Nas palavras de Sueli Gehlen Frosi, “... Quero-te de volta, / Exijo sentir a respiração mansa, / Do amor que escolhi, há tanto / Para fazer parte de mim...”
               Recolho conchas na praia para confortar o meu pensar; estou sempre repensando a solidão como as duras penas no sopro do sentimento conflagrado. Além da saudade, sinto que as comportas da noite se abrem para as verdades. Então, absorvo o limite da hora da despedida e me mantenho densa no agora. Com a alma fria e os pés paralisados faço da renúncia a minha procura, deslocada da sua imagem, e me entrego por inteiro à melancolia.
               Surpreendo-me rememorando situações, e quero mais; quero a sua presença de volta ao meu viver; quero o voo do pássaro no final da tarde, com você; mais, quero pousar a cabeça em seu ombro. Tudo passou, transcorreu e você morreu, deixando o gosto amargo na minha boca; com o coração alvejado, perdida entre lembranças ao interiorizar o seu corpo, seu olhar; sua imagem na tentativa de permanecer ao seu lado. Iludida, canto com voz rouca a nossa música e sobrevivo à sua ausência com o amargor do encontro inexistente. Sueli Gehlen Frosi demonstra, “... Lembro-me então da morte, da dor, das velas, / Levando devagar para muito longe / O quem mais amo, tu! / Choro gritos, desfaço-me em lágrimas, / Soluços sufocam-me a garganta, / Para então, em agonia, / Dar-me conta de que sonhei, / De que estás aqui, como sempre, / Fazendo-me companhia...”

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