Não podia correr. Não sabia por que, apenas lhe era proibido correr. Percebeu
também, não tinha capacidade para correr. Sentiu-se cansado quando, há poucos
instantes, precisou acelerar os passos ao atravessar a rua. Não foi
praticamente uma corrida, foi mais um acelerar as pernas para que não fosse
atropelado. Foi isso apenas. Não podia caracterizar tal feito como corrida.
Claro que não! Se o vissem diriam que fora. Bom o problema não era dele, pensou
aliviado.
Sendo assim, continuou andando rente à parede. Seguia em linha reta. Não
se preocupava em desviar dos outros, os outros que se desviassem dele. De vez
enquanto esticava os dedos e deixava que sentissem a porosidade das pedras.
Outras vezes, forçava os dedos até que, a carne sendo perfurada, sangrasse.
Queria se integrar aos componentes que deram forma as casas, aos prédios, aos
edifícios vazios de almas e cheios de vidas. Achava que devia amar as pulsões
reinantes entre os ferros e cimentos e calcários como se fosse sua vida que ali
estivesse. Como se vivesse a vida de cada um reinante no dia-a-dia. Chorou no
silêncio das lágrimas petrificadas ao rasgar a face.
Em silencioso choro, compreendeu, ao se refazer
totalmente, pedaço por pedaço, aqueles instantes que, por segundos, lhe pareceu
insinceros. Sim, chorou, deveria se envergonhar? Não claro que não. Apenas que
o choro repercutiu nas entranhas, esfolou paredes que deveriam permanecer
impassíveis. Chorou o esporro da carne no aconchego dos lençóis amarfanhados
pelos corpos suados e cansados.
Aquietou-se. A carne seguiu a quietude do corpo enovelando-se na alma saciada e feliz. Foi então que se deslumbrou. O mundo se fez luz brilhando sorrisos nas brancas asas das pombas.
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