domingo, 2 de abril de 2023

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Ópera.


Vou de mim mesmo. Vou seguindo nas sombras cinzentas dos edifícios amanhecidos de tortura humana. Componho palavras desajustadas a espera que algo possa acontecer a esses sofríveis emaranhados desejos. Furtos sentimentos paranoicos esquizofrênicos, melodramáticos, e outros cambaus a quatro. Piso asfalto rugoso cheirando a pele suave da cidade que amanhece regurgitando baforadas de gasolina e veneno alcoólico da madrugada.  Levo-me a encontrar o eu que não sou. Vomito a excrescência do parto natimorto ejaculado displicentemente.    
Gritam profetas da sabedoria universal sem entender a sabedoria individual. Somos perdidos nos escombros de nos mesmo. Choram profetas da verdade as mentiras estampadas nos rostos dos tecidos mal tecidos.  Nas fibras das peles emudecidas de medo enregelando vidas. Profetizam anátemas suicidas contra o sistema ejaculado entre pernas sedentas. Profetas de merda escorrem feridas pustulentas de palavras vazias, de palavras com a neurose vencida. Profetas que te quero longe de mim.

Escalo a escala emocional revelando-me nos acordes dos meus passos indecisos. Pontuo cada gesto na conformidade musical da sonora avenida. Rasgo-me nos timbres graves silenciosos cujas bocas anseiam beijos esquecidos. No alegre ma non troppo vou criando o libreto da ópera da minha vida.

Garanto será a pior ópera de todos os tempos.


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