sábado, 16 de janeiro de 2010

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O SOL DE TODAS AS NOITES - Claudio Parreira

Para Edelícia


Havia um sonho em mim antes de você, e subitamente você emprestou carne e voz à fina matéria inebriante desse mesmo sonho que eu achava só meu.
Perplexo, indaguei o vazio, Deus, os silêncios que me preenchiam desde sempre. Um medo. O amor.
Passei dias fugindo de mim, o nariz tentando esquecer o perfume que já estava gravado pra sempre no cérebro. A concretude da pele. Os seus olhos que me ofereciam frescor e abismos.
Eu não acreditava mais. Minhas mulheres de sonho, sempre elas. Mas você se impunha como um a realidade incômoda. Peitos e bunda, os fluidos da nossa rasa experiência comum.
Não me julgava merecedor de uma mulher de verdade. Eu, que sempre amara mulheres inventadas.
Um dia porém resolvi fechar os olhos e abrir os braços. E a luz se fez.
A felicidade é um fardo sorridente. E eu sorri, sorrimos. Experimentamos o sonho de viver de amor.
Agora existe um deserto entre nós. O sol de todas as noites. Mesmo com você ao meu lado, minhas mãos não te alcançam mais. Nossas palavras se perdem no vazio de um rancor amargo.
Mais uma vez me volto para a intangibilidade das mulheres de sonho, agora certo de que a realidade não é suficiente. A solidão é uma doença que não se cura com abraços.
Nunca te conheci de fato, percebo agora; você também nunca me conheceu. Seguimos apenas os dois, perdidos dentro da névoa.

1 Comentário

Jorge Xerxes

Parreira, Belíssimo!

"Um dia porém resolvi fechar os olhos e abrir os braços. E a luz se fez. A felicidade é um fardo sorridente. E eu sorri, sorrimos. Experimentamos o sonho de viver de amor."

"A solidão é uma doença que não se cura com abraços.
Nunca te conheci de fato, percebo agora; você também nunca me conheceu. Seguimos apenas os dois, perdidos dentro da névoa."

Puro Sentimento!

Um Forte Abraço, Jorge X