quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

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Quarta-feira de cinzas - Patrícia Amorim

É verdade: amo a quarta-feira de cinzas. Quero dizer com isso que detesto o carnaval, que não nutro a menor simpatia por este festival com seus excessos e coisa e tal.

São quatro tenebrosos dias em que juntamos as cinzas dos inocentes que viram notícia pelo excesso de algum demente. É a quarta-feira batendo ressaca, mostrando o outro lado, derretendo a máscara, virando a casaca.

E nesses quatro miseráveis dias as pessoas esqueçam que há vida após a folia, adiando obrigações como se fossem desaparecer da noite para o dia. Amassam suas tristezas sob os pés e se afogam em uma alegria muitas vezes fora de qualquer filosofia.

É a quarta-feira cinzenta, mostrando o que restou dos outros três dias de cores e esplendores. Dias em que as escolas de samba exibem sua fortaleza financeira atrás de um mundo de tráfico, de sangue e outros horrores.

Quarta-feira de cinzas: dia de voltar a ser o que nunca deu para entender, dia de acabar com o que não deveria começar. Dia de pagar as contas, ir ao mercado, puxar o extrato bancário e chorar feito otário. Dia em que o governo anuncia um pacote e aumenta um imposto, para assim, ferrar o povo de novo.

Confesso estar hoje decepcionada com essa festa tão brasileira.


“O carnaval é hoje a festa mais estúpida do Brasil.”
Lima Barreto/1922

1 Comentário

Bruna Maria

Olá!
Confesso que não sou fã de Carnaval, e que, quando chega a quarta-feira de Cinzas, dou graças por saber que a vida (e a cidade) voltará ao seu normal. O que mais me intriga na festa carnavalesca é a capacidade das pessoas abstraírem todos os seus problemas e expressarem uma felicidade tão excessiva quanto desconfiável. Mas, sinceramente, acho mais é que aqueles que curtem e não se importam em fazer de 4 dias de suas vidas um momento de distração completa devem mesmo é aproveitar e se divertir.
Um abraço!