sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

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RELÂMPAGOS 01










a

Com seus amplos óculos escuros, já não temia mais o nascer do sol.

Sua única dificuldade era disfarçar as presas à luz do dia.


aB

Na lua cheia, o que menos incomoda é a metamorfose.

A alergia às pulgas & ao pelo é a sua verdadeira maldição.


aC

— Vi um terráqueo! — ele disse.

A platéia de aliens, mais uma vez, não acreditou.


aD

Cansada dos séculos, a Esfinge, suicida, lança novo desafio:

— Decifra-me ou me devoro!


aE

Festão, hidras basiliscos harpias bebendo cerveja fumando charutos.

A Realidade, que não fora convidada, acabou com tudo a tiros.


aF

Combino palavras com muito silêncio.

Poucas palavras.

As palavras que gritam.


aG

Hoje encontro no espelho um rosto de ontem.

Aquilo que fui.

O sorriso que dei.

Ainda bem.

Triste é o espelho que revela o que vai ser.


aH

Troquei o sorriso pela felicidade.

E a felicidade era tanta que eu precisei sorrir.

Mas já não havia como.


aI

Sua primeira palavra na vida:

— Voltei!

Sua última palavra na vida:

— Voltarei!


aJ

Na esquina dos insultos, até os mudos trocam silêncios grosseiros.


aK

— Vou!

— Não vai!

— Volto, então.

— Não pode.

— Por quê?

— Porque não foi.


aL

Uns colecionam estrelas, primaveras.

Outros, sorrisos e abraços.

— Bando de loucos! — berram aqueles que só colecionam a razão.


aM

Sob o sol, bem na curva do vento, ele perdeu a sombra – cem metros depois de ter perdido o juízo.


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