sexta-feira, 19 de março de 2010

0

A Dama do Metrô - 3

Osvaldo Pastorelli.
Estava em pé e cansada, a perna doía. Fazia um calor não muito quente, era um calor ameno, mas que a deixava inquieta. Olhou para os lados. Credo, como tem gente feia. O que está acontecendo - perguntou mentalmente ao perceber um rapaz bocejar mostrando as falhas nos dentes - não há mais homem bonito. Cada bagulho!
Nisso a moça que estava sentada a sua frente, levantou. Ufa! Graças a Deus, vou sentar. Porém, notou um olhar pedinte que não teve como não recusar. Cedeu-o para o senhor que estava ao seu lado. “Obrigada moça”. “Não tem de quê”, respondeu com uma pontinha de raiva dentro dela, que provocou um sentimento de vergonha.
Se acontecesse alguma coisa para quebrar a monotonia... Mas já estava quase na metade da viagem e, até agora, nada acontecerá. Que droga! Sentia-se deprimida, estaria perdendo os encantos, os homens não tinham mais atração por ela? Também, esses bagulhos...
“Estação Tatuapé!”, berrou a voz dentro do trem. Abriram-se as portas e uma enxurrada de massa humana adentrou no vagão empurrando e tropeçando. Exclamações pipocaram aqui e ali reclamando.
Ela continuou na sua, quieta, estava no corredor, bem no meio do vagão, portanto não tinha como ser empurrada. Distraída nos pensamentos não viu que ele se postou atrás dela. Sentiu uma pequena pontada nas costas, de leve, roçando o excitamento que despertava.
Ele malandro conquistador, notou a beleza estonteante dela. Obedecendo ao instinto de macho, começou com o seu joguinho audacioso. Postou o braço ao longo do corpo como ninguém quer nada, foi se aproximando dela que pedia carinho. Aproveitou que passavam por suas costas, espremendo-o contra ela, abriu a mão que roçou a nádega dela.
Ela, para disfarçar olhou para traz com o intuito de reclamar, mas seus olhos castanhos claros divisaram uns olhos azuis a ponto de derreterem seu cansaço. Soltou os músculos, se preparou para o que desse e viesse e, quem sabe...
Sua alma se expandiu aquecendo a carne faminta. Sua pele se eriçou quando a mão dele invadiu sua privacidade. Uma brisa suave lambeu suas coxas febricitando a mata úmida regozijando se de prazer. Seu corpo se amoleceu, uma vertigem dominou seus sentidos. Não estava conseguindo se dominar. Suas pernas se dobravam lentamente. Estava desmaiando com a quentura da mão dele em sua pele intima, protegida apenas pela saia de pano fino. Nisso ouviu a voz dele pedindo...
- Por favor, senhorita, pode me dar licença?
Ahn! Que foi? Olhou para traz, não viu os olhos azuis e, sim, uns olhos safados, maliciosos, óculos fundo de garrafa e sorriso amarelo, cheirando a café amargo e suor azedo.
Embaraçada, sem entender o que lhe acontecerá, rapidamente desceu e, para o seu espanto, estava no final da linha perdida.


Imagem: Nancy Torres

Seja o primeiro a comentar: