De tanto ler Rubem Braga, já me considero “braguense” na alma. Sinto pelo Braga uma afinidade tão grande, que receberia, sorrindo, sua crônica Ao Respeitável Público, como se fosse pessoal e intransferível.
Sabe Braga, tenho que lhe contar: temos uma afinidade quase familiar, já que minha mãe é da sua tão querida Cachoeiro de Itapemirim. Morou na sua rua, a 25 de Março, brincou com suas sobrinhas Zininha e Lucinda, sendo esta última, motivo de inspiração de minha avó para o nome de minha mãe, Maria Lúcia, que muito se divertiu também com seu sobrinho Laurinho, filho de sua irmã Zina. Aliás, Braga, sempre que releio A Morte de Zina, já não me deixo abater pelo peso de suas palavras, pois que agora já devem estar abraçados como um casal afinado.
Apesar de ter nascido em Vitória, não conheci Cachoeiro, mas tenho uma doce e amorosa lembrança de meu querido avô a escutar atento e ao lado do toca-disco, a música Meu Pequeno Cachoeiro, de Raul Sampaio. Chorava calado suas lembranças como se não houvesse rival para a sua tristeza.
Tive uma breve e feliz infância na casa dos meus avós em Marataízes, lugar onde você também passou alguns verões. Minhas recordações vão desde o tão esperado arrastão na praia até a deliciosa bala do Sr Najibe, lembra? Guloseima esta que meu avô, carinhosamente, permitia que eu enchesse uma mão inteira. É Braga, hoje entendo o porquê que a saudade mata a gente.
Sabe Braga, também tive uma casa de infância que sempre recordo com alegria, mas não volto mais lá não. Fiz esta besteira uma vez. Uma só. É que temos essa mania idiota de congelar lugares que nos foram importantes como se nunca fossem mudar. E mudam: pra pior. E quando lá retornamos, vemos que a geleira degelou, que o riu mudou o curso contra a sua vontade ou secou, e que o mar virou outra coisa.
O lugar onde passei minha infância e adolescência chamava-se Rio das Ostras. Ainda se chama, mas se metamorfoseou. Minha casa não pode ser mais vista, pois levantaram um muro de cinco metros onde havia um bem baixo, destes que serviam de cadeira no final da tarde para que pudéssemos conversar com quem passava. O mar foi sendo empurrado para dar lugar aos ciclistas e outros esportistas; mas um dia ele virá buscar o que lhe foi roubado, despejando suas nuvens de espuma, derrubando tudo o que for preciso. Desmataram o verde, derrubaram árvores centenárias como quem joga fora fruta podre para melhorar o cenário; ao contrário do seu imenso cajueiro, que o deixaram cair de idade e de lado para não quebrar as telhas da sua casa em Cachoeiro. Até o caju da sua terra foi mais inteligente. Lembra Braga, que o Fulano de Tal já dizia que no Brasil o homem é plantador de desertos? Nada no homem mudou Braga, nadinha. Desculpe amigo, se te deixo aporrinhado.
As estrelas não circulam mais no alto de mãos dadas. Nosso céu visto daqui, já não é mais simpático. O homem chegou e acendeu tantas luzes desnecessárias que a moda agora é nos acostumarmos com o tal do apagão; mas deixa pra lá, pra não fazer confusão. Trouxe o homem também mais petróleo - que é nosso - mas a natureza, ficou esquecida.
Ah, Braga querido, Braga meio-irmão, como entendo o seu pesar! Também gosto dos pássaros, do seu cantar....mas Braga, desisti de prendê-los. Tentei te imitar, mas tive pena. Pássaro é para fora, nós é que somos para dentro.
Está difícil conterrâneo. Dificílimo viver por aqui. Quando olho em volta, acho mesmo que foi melhor você ter ido embora antes de mim, pois não gostaria de vê-lo escrever Ai de Ti Rio de Janeiro! Ai de Ti Brasil! Ai de Nós!
É isso Braga, fique com Deus.
terça-feira, 9 de março de 2010
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Meu quase amigo Braga - Patrícia Amorim
autor(a): PATRICIA ROCHA DE AMORIM
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