domingo, 11 de abril de 2010

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A carta que ficou imaginária - Bruna Maria

Bruna Maria.


Acenava adeus, acenava. Era o outro lado do vidro, a minha vida era o outro lado do vidro – assim pensava. Mais no fundo, bem mais no fundo, víamos as aeronaves estacionadas, abastecendo e esperando. Acenava adeus, demoradamente, por deus, como acenava em demora...!
Os dedos... Lá do outro lado do vidro eu via pela última vez o seu chapéu, pela última vez lhe cobrindo cabelos, porque ia, porque ela disse que ia para um país mais frio que o nosso. Havia sorriso em seus lábios, eu sei que havia. Estava feliz, afinal. Acenava adeus infinitamente, devia ser porque estava feliz e queria confirmar que o que acenava era adeus, enfim. Tinha uma bagagem de mão e um livro francês que eu lhe dera, era o que tinha em mão. Seria uma longa viagem e por isso aquele longo aceno de adeus, uma viagem tão longa...
Os dedos... dispostos no ar, bailavam os dedos... demoradamente no aceno interminável...

“Dia 1, Neste Lugar
Querido, amor, saudoso...,
este lugar é mágico e sinto muito pelas saudades. O livro está lido. Tenho muitas novidades que não cabem no papel.
Com um beijo de sua _________.”

Mas eu pude ver, pelo teor de seu aceno eu pude ver, que jamais receberia tal mensagem. Ela tinha sorriso sobre os lábios, mas vinha de dentro. Era a última vez.
Guardei o vislumbrar daqueles dedos demorados, a mão em valsa, eu guardei. Adeus, querida...
O que é o despedir-se! Dói até hoje; cada aceno prosaico e qualquer que me toca, vindo de gente comum, dói até hoje... É como naquele dia, querida, responda-me a esta humilhação. É como naquele dia, um aceno interminável... que não cabe no papel.



Imagem: autor ignorado

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