O gato branco salta silencioso sobre a cadeira.
Observa profundamente os meus olhos
com aqueles OlhOs seus:
um verde e outro azul.
Depois ele deixa-se ir.
Lento,
sem medo,
como se nunca estivesse ali.
A cadeira ainda guarda o calor de seu corpo felídeo.
Sua arte do desvanecer.
A liberdade dele me diz muito:
da preguiça,
da coisa toda de não fazer,
do lamber-se cuidadoso e asseado.
Alvas felpas,
garras retráteis
e a cauda sinuosa.
Nada falam do que não foi.
Não se ocupam em espreitar o futuro
ou arrepender-se do que passou.
Fluem íntegras através do agora.
Vazam líquidas num caminhar sólido,
firme,
de um passo quieto e magro
de quem absorve a maciez do chão
e lhe devolve o salto em dobro.
terça-feira, 18 de maio de 2010
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Anatomia entre dois saltos - Jorge Xerxes
autor(a): Jorge Xerxes
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5 comentários
Jorge
E suas patas brancas caminham insensíveis pisando apenas no chão do presente de sua estranha liberdade. Acredito que algum cão...olhando de longe, deve ficar a pensar como são traiçoeiros seus passos...inimigos da cumplicidade. Mas a vida segue.Lei é para ser cumprida.
abraços
Noélio A. de mello
Um gato que compreendo como um arquétipo obscuro que habita em todos nós, ora oculto, ora com as garras armadas.
Belo texto, Jorge.
Ora simplesmente o gato de minha mãe... aquele branco, com um olho de cada cor, companheiro arisco :-)
Meu caro, que poema mais maravilhoso de se ler. O banal transcendido através da poesia... belíssimo! O gato ali, sem maiores pretenções, nos passando grandes reflexões... // Abraço!
Corrigindo meu erro 'pretenções' pela forma certa 'pretensões', com 's'. // Desculpa e Abraço
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