sexta-feira, 14 de maio de 2010

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EM FAMÍLIA - Capítulo 03




III – CIRCOS

A chegada do circo na cidade é o motivo da nossa maior alegria.
Somos os primeiros a assistir ao espetáculo de estréia, e depois, em casa,
nos preparamos: papai engole espadas e cospe fogo; o tio desengaveta as
roupas de palhaço; mamãe e a tia evoluem no trapézio improvisado no
quintal e eu faço os números de magia e contorcionismo. Vovô, que de nós
é o mais talentoso, imita os animais. Vovó treina para nos apresentar.
Quando estamos bem ensaiados, montamos a nossa modesta lona bem
em frente ao circo. Como não dispomos de um sistema de alto-falantes e
nem de dinheiro para cartazes, nossa brilhante estratégia para atrair o
público consiste unicamente em franquear a entrada. O gerente do circo
vizinho fica uma fera por causa disso e vem tirar satisfações com papai. Em
geral eles discutem, e papai, quando ameaçado, lança mão do seu maior
trunfo: vovô, escondido atrás de uns caixotes que servem de arquibancada,
imita tão perfeitamente um leão que o gerente se apavora, pede desculpas
e desaparece.
Na noite que marcamos para a estréia, o público assiste a dois
espetáculos: o nosso, que escorrega um pouco por conta do amadorismo, e
o do circo em frente, que exibe graça e técnica até mesmo para recolher a
lona.

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