IV – ANARQUIA SOBRE A ÁRVORE
– VARMUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUCHTEN!!!, grita vovô, nu, sobre a
árvore do quintal. Eu e mamãe somos pegos de surpresa, vovó se lamenta,
o tio corre, preocupado, a tia cobre os ouvidos com as mãos.
– Precisamos tomar uma providência, diz o tio, indo para dentro.
– Uma providência, repito.
Do alto da árvore, com seus olhos de pássaro desplumado, vovô nos
observa. Nada em sua expressão denuncia insegurança: parece ter passado
a vida inteira entre galhos e folhas, a cinco metros do chão.
O tio volta do interior da casa mais tranqüilo. Solicitou ajuda pelo
telefone.
– Vai demorar?, pergunto.
– Já estão chegando, responde o tio, apontando para o portão.
Um filólogo, um tradutor, um especialista em línguas mortas, uma
mocinha recém-saída da infância. Vovó os recebe com abraços e biscoitos,
e eu repito a palavra pronunciada por vovô. O filólogo balança a cabeça, o
tradutor consulta a sua biblioteca portátil, o especialista não se manifesta
e a mocinha sorri para vovô, que lhe devolve uma piscadela libidinosa.
– Precisamos consultar o próprio emissor, diz o filólogo. Só ele tem a
chave adequada para decodificar a mensagem.
– O que ele quer dizer é que só o velhinho pode nos ajudar, diz o
tradutor.
O tio e eu trocamos um olhar. Sabemos que uma colaboração de vovô
é praticamente impossível. Mamãe, um exemplo de bom senso, leva vovó e
a tia para dentro. Os homens se reúnem embaixo da árvore.
– Senhor, berra o filólogo, repita a palavra, por favor. Precisamos
analisar a sua cor, textura, a sua sonoridade.
Vovô, dando os primeiros sinais de irritação, vira-se de costas para os
homens e peida, cagando em seguida sobre suas cabeças.
– Meeeeeeeeerdaaaaaaaaa!!!!!!, grita o especialista, em língua bem
viva.
Sem demonstrar a menor preocupação para com o ato ou suas
conseqüências, vovô desce dois galhos e ajuda a mocinha a subir na árvore.
Com ela no colo, ouve a voz de papai, que até então não se manifestara:
– Estão perdendo tempo, todos vocês. Esqueceram que ele é
anarquista?
– VARMUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUCHTEN!!!, grita vovô, nu, sobre a
árvore do quintal. Eu e mamãe somos pegos de surpresa, vovó se lamenta,
o tio corre, preocupado, a tia cobre os ouvidos com as mãos.
– Precisamos tomar uma providência, diz o tio, indo para dentro.
– Uma providência, repito.
Do alto da árvore, com seus olhos de pássaro desplumado, vovô nos
observa. Nada em sua expressão denuncia insegurança: parece ter passado
a vida inteira entre galhos e folhas, a cinco metros do chão.
O tio volta do interior da casa mais tranqüilo. Solicitou ajuda pelo
telefone.
– Vai demorar?, pergunto.
– Já estão chegando, responde o tio, apontando para o portão.
Um filólogo, um tradutor, um especialista em línguas mortas, uma
mocinha recém-saída da infância. Vovó os recebe com abraços e biscoitos,
e eu repito a palavra pronunciada por vovô. O filólogo balança a cabeça, o
tradutor consulta a sua biblioteca portátil, o especialista não se manifesta
e a mocinha sorri para vovô, que lhe devolve uma piscadela libidinosa.
– Precisamos consultar o próprio emissor, diz o filólogo. Só ele tem a
chave adequada para decodificar a mensagem.
– O que ele quer dizer é que só o velhinho pode nos ajudar, diz o
tradutor.
O tio e eu trocamos um olhar. Sabemos que uma colaboração de vovô
é praticamente impossível. Mamãe, um exemplo de bom senso, leva vovó e
a tia para dentro. Os homens se reúnem embaixo da árvore.
– Senhor, berra o filólogo, repita a palavra, por favor. Precisamos
analisar a sua cor, textura, a sua sonoridade.
Vovô, dando os primeiros sinais de irritação, vira-se de costas para os
homens e peida, cagando em seguida sobre suas cabeças.
– Meeeeeeeeerdaaaaaaaaa!!!!!!, grita o especialista, em língua bem
viva.
Sem demonstrar a menor preocupação para com o ato ou suas
conseqüências, vovô desce dois galhos e ajuda a mocinha a subir na árvore.
Com ela no colo, ouve a voz de papai, que até então não se manifestara:
– Estão perdendo tempo, todos vocês. Esqueceram que ele é
anarquista?
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